Um beneditino poeta
As letras são como flores,
formando um belo buquê,
que o grego chama alfabeto
e o português, ABC.
Dom Marcos Barbosa
1. Prossigo no meu propósito de, em pequenas crônicas, escrever sobre escritores e poetas mortos. Ousarei chamá-los amigos, quando for preciso, mesmo correndo o risco de ouvi-los perguntar, lá do além, quem é esse senhor, esbanjando tamanha intimidade.
2. Escrevo sem ter conhecido nenhum deles . Mas um pouco da obra de cada um, sim. Quem gosta da boa leitura, leu pelo menos um romance de Machado de Assis ou de Josué Montello; e versos de Olavo Bilac, Gonçalves Dias e Castro Alves, inspirados vates.
3. Dias desses, escrevi sobre o poeta maranhense Odylo Costa, filho. Até transcrevi o seu poema "São Roque e os cachorros". Ivone, minha mulher, que acabara de ler "Os bichos no céu", achou que o Odylo tem versos mais bonitos. Justifiquei a escolha, afirmando que tinha querido acarinhar os cachorrinhos vira-latas que andam perambulando nas noites velhas, com frio e fome.
4. Muito bem. Hoje é a vez de lembrar o saudoso dom Marcos Barbosa, OSB, um beneditino poeta. Dom Marcos nasceu na cidade mineira de Cristina no dia 12 de setembro de 1915.
Escreveu centenas de versos, formidáveis crônicas e foi um excelente tradutor. Com esse elogiável currículo, chegou à Academia Brasileira de Letras no dia 20 de março de 1980. Conquistou a Cadeira n. 15. Foi um acadêmico respeitado por seus pares e pelos intelectuais de todo o país.
5. Entre os seus encantadores poemas, destaco o "Cântico de núpcias", que todo recém - casado deveria saber de cor. Escreveu "Nossos amigos os santos", dedicando um soneto a cada bem-aventurado por ele escolhido. "Oração e Trabalho, eis o seu lema". Com esse verso, dom Marcos homenageou o santo fundador de sua Ordem, São Bento de Núrsia.
"Ora et labora" é o brasão, a bandeira dos monges beneditinos; como "Pax et bonum" - "Paz e bem" é o brasão dos filhos de São Francisco de Assis, o santo que me protege.
6. Sem tirar a batina, cumprindo todas as normas conventuais e obediente à Igreja de Roma, dom Marcos foi um exemplar jornalista. Publicou belas crônicas no Jornal do Brasil, nos seus tempos áureos; ao tempo em que, na Rádio Jornal do Brasil, de audiência invejável, fez enorme sucesso com o programa "Encontro Marcado".
7. Ensinou, versejando. Vejam como ele ensinava aos nossos garotos a decorar as vogais.
"A.E.I.O.U, vogais,/ vamos logo decorar:/ ao juntar-se às outras letras/ vão as sílabas formar. == o B encosta no O -BO,/ o L, encosta no A- LA,/ e eis a BOLA que pula,/ salta aqui, salta acolá". E segue, com rimas, ensinando, além das vogais, as consoantes.
8. No seu livro "As vinte e seis andorinhas", dom Marcos transforma num só poema o nosso ABC. Dou um exemplo, transcrevendo o seu verso em cima da letra V. == De "era uma vez"/ Nos conta uma história / porém com dois dedos/ Proclama a vitória.
9. O tradutor. Deve-se a dom Marcos a tradução de duas obras conhecidíssimas. Até quem não gosta de ler, diz conhecê-las. E mentindo, garante que já percorreu suas páginas.
Os dois livros são: "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint Exupéry (1900-1944) e "Marcelino Pão e Vinho", de José Maria Sanchez Silva (1911-2002). "O Pequeno Principe" ainda hoje é o presente preferido dos enamorados...
10, Se percorresse a intimidade de dom Marcos, certamente encontraria belos momentos e episódios interessantes para contar aos meus leitores.
Mas prometi escrever mini-crônicas. Porém, a tentação de escrever muito mais é quase irresistível. Fico por aqui, dizendo que dom Marcos Barbosa morreu no dia 5 de março de 1997, no Rio de Janeiro. Nesse dia, este cronista completava 62 anos, com meus cabelos começando a pratear.
As letras são como flores,
formando um belo buquê,
que o grego chama alfabeto
e o português, ABC.
Dom Marcos Barbosa
1. Prossigo no meu propósito de, em pequenas crônicas, escrever sobre escritores e poetas mortos. Ousarei chamá-los amigos, quando for preciso, mesmo correndo o risco de ouvi-los perguntar, lá do além, quem é esse senhor, esbanjando tamanha intimidade.
2. Escrevo sem ter conhecido nenhum deles . Mas um pouco da obra de cada um, sim. Quem gosta da boa leitura, leu pelo menos um romance de Machado de Assis ou de Josué Montello; e versos de Olavo Bilac, Gonçalves Dias e Castro Alves, inspirados vates.
3. Dias desses, escrevi sobre o poeta maranhense Odylo Costa, filho. Até transcrevi o seu poema "São Roque e os cachorros". Ivone, minha mulher, que acabara de ler "Os bichos no céu", achou que o Odylo tem versos mais bonitos. Justifiquei a escolha, afirmando que tinha querido acarinhar os cachorrinhos vira-latas que andam perambulando nas noites velhas, com frio e fome.
4. Muito bem. Hoje é a vez de lembrar o saudoso dom Marcos Barbosa, OSB, um beneditino poeta. Dom Marcos nasceu na cidade mineira de Cristina no dia 12 de setembro de 1915.
Escreveu centenas de versos, formidáveis crônicas e foi um excelente tradutor. Com esse elogiável currículo, chegou à Academia Brasileira de Letras no dia 20 de março de 1980. Conquistou a Cadeira n. 15. Foi um acadêmico respeitado por seus pares e pelos intelectuais de todo o país.
5. Entre os seus encantadores poemas, destaco o "Cântico de núpcias", que todo recém - casado deveria saber de cor. Escreveu "Nossos amigos os santos", dedicando um soneto a cada bem-aventurado por ele escolhido. "Oração e Trabalho, eis o seu lema". Com esse verso, dom Marcos homenageou o santo fundador de sua Ordem, São Bento de Núrsia.
"Ora et labora" é o brasão, a bandeira dos monges beneditinos; como "Pax et bonum" - "Paz e bem" é o brasão dos filhos de São Francisco de Assis, o santo que me protege.
6. Sem tirar a batina, cumprindo todas as normas conventuais e obediente à Igreja de Roma, dom Marcos foi um exemplar jornalista. Publicou belas crônicas no Jornal do Brasil, nos seus tempos áureos; ao tempo em que, na Rádio Jornal do Brasil, de audiência invejável, fez enorme sucesso com o programa "Encontro Marcado".
7. Ensinou, versejando. Vejam como ele ensinava aos nossos garotos a decorar as vogais.
"A.E.I.O.U, vogais,/ vamos logo decorar:/ ao juntar-se às outras letras/ vão as sílabas formar. == o B encosta no O -BO,/ o L, encosta no A- LA,/ e eis a BOLA que pula,/ salta aqui, salta acolá". E segue, com rimas, ensinando, além das vogais, as consoantes.
8. No seu livro "As vinte e seis andorinhas", dom Marcos transforma num só poema o nosso ABC. Dou um exemplo, transcrevendo o seu verso em cima da letra V. == De "era uma vez"/ Nos conta uma história / porém com dois dedos/ Proclama a vitória.
9. O tradutor. Deve-se a dom Marcos a tradução de duas obras conhecidíssimas. Até quem não gosta de ler, diz conhecê-las. E mentindo, garante que já percorreu suas páginas.
Os dois livros são: "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint Exupéry (1900-1944) e "Marcelino Pão e Vinho", de José Maria Sanchez Silva (1911-2002). "O Pequeno Principe" ainda hoje é o presente preferido dos enamorados...
10, Se percorresse a intimidade de dom Marcos, certamente encontraria belos momentos e episódios interessantes para contar aos meus leitores.
Mas prometi escrever mini-crônicas. Porém, a tentação de escrever muito mais é quase irresistível. Fico por aqui, dizendo que dom Marcos Barbosa morreu no dia 5 de março de 1997, no Rio de Janeiro. Nesse dia, este cronista completava 62 anos, com meus cabelos começando a pratear.