A Calça Pantalona da Cláudia Raia
Hoje eu fui fazer as unhas em um salão no centro da cidade.
Pela primeira vez, com 21 anos, tirei a cutícula.
Pode não parecer nada mas, pra mim, foi sensacional estar com outras mulheres ouvindo-as falar sobre a calça pantalona que a Claúdia Raia está tentando ressuscitar, ou sobre como é preferível adotar uma criança assim que nasce, porque a educamos do nosso jeito.
O que me chocou, foi que em dado momento uma velha doente parou na porta do salão com um abajur e disse:
- Alguém quer comprar? Preciso fazer uma cirurgia na perna - mostrou a perna quase necrosada pra nós - e não tenho dinheiro, daí tem que tentar vender o que dá, né.
A dona do salão, uma senhora chic, olhar de patroa, se compadeceu:
- Eu não tenho nem onde botar isso, minha linda, mas vou dar uma ajuda, toma aqui esses 20.
Nem me mexi.
Após a senhora sair, a reflexão da dona:
- Ah esses contrastes sociais! Não era para ela estar na frente da TV com uma coberta nas pernas, uma hora dessas?
Sim, era.
Não era para ela estar vendendo abajur pra cirurgia nenhuma às 10:00 da manhã.
Eu tinha dinheiro, mas não dei.
Agora, enquanto escrevo, me dei conta de que tinha o suficiente para levar o abajur pra casa. Mas não levei.
Fiz as unhas e prossegui meu dia normalmente, amanhã provavelmente nem vou lembrar da velha, ou da perna. Mas vou lembrar da calça pantalona da Cláudia Raia...