Amor paterno
De cabeça encostada à janela, Clara acompanhou de longe a despedida do pai. Ela bem que brigou com os próprios olhos para que essa despedida ocorresse da melhor forma possível. Porém, os variados pingos rebeldes da chuva daquela manhã, arrancou-lhe aquele prazer. Era uma visão frágil. Mas era a única oportunidade da qual Clara tinha para ver o pai.
Seu pai, já fora do quintal, próximo ao veículo que o arrancaria de vez da sua vista, aos beijos deu a última despedida. Clara o retribuiu, entre as lágrimas cachoeiradas ao frágil rosto, acompanhadas de soluços na vontade de que aquela cena não viesse acontecer. Seu sonho era que ela, mamãe e o papai aproveitassem daqueles momentos, juntinhos, numa mesma cama aquecidos pelas cobertas, enquanto o pai, como sempre, fazia cachinhos em seus cabelos.
O Sonho em que deixou de ser real. O pai se despediu de vez. Ela não será amparada, a não ser pela mãe, que Clara culpava pela maior parte do seu sofrimento. Quando o pai de Clara saia para o trabalho, sem dia certo para retornar, a mãe de Clara, sem se preocupar com a filha, de forma audaciosa, colocava outro homem dentro de casa.
Clara amava o pai, mas o sonho de manter a família unida nunca mais aconteceu. O tempo passou. Clara só voltou a ver o pai dezoito anos mais tarde, na entrada de uma igreja, enquanto a vários metros da sua frente um novo cara aguardava-a, lúcido em retribuí-la naquilo do qual seus sonhos de criança, por questão de vida adulta, o pai não pôde continuar.