____________ Com um pé na roça

 
“Meia hora de roça resolve qualquer tristeza.” Será? Será. Eu saí da roça, mas a roça nunca saiu de mim. E se vejo uma paisagem rural, grita logo meu lado roça. Vacas nos pastos, árvores, riachos nas capoeiras, piado de passarinhos... Sou eu. Ninguém que ame a vida do campo consegue ficar imune a estes sinais. No asfalto ou nos ares, se saio por esse Brasil, é a chaminé da casinha soltando fumaça lá no fundão do vale que me benze os olhos: penso logo no felizardo que desfruta da bucólica paz, que tanto mexe com minhas raízes.

Moro na cidade, mas a cidade não entra em mim. Só resta me conformar com o cenário urbano. Estresse,  falta de segurança, carro buzinando, ruas em que se leva uma vida pra se conseguir atravessar. Como é que alguém da roça pode gostar disso? Não gosto, mas me adapto. Em paralelo, o celular me conta notícias numa sequência desvairada: morre o menino Kaio Guilherme, vítima de mais uma bala perdida. E o que o drama gigante desta família muda no mundo? Nada, porque a vida segue em fluxo frenético. Antes que Kaio seja lembrado novamente, lentes jornalísticas já caçam outro foco. E eu? Longe da minha meia hora de roça pra resolver minha tristeza, também me descubro assim: já esperando um novo drama.


Tema da Semana: Novo Drama