Rendeiras de babados - BVIW
As crianças estavam brincando no quintal, Joan estendendo as roupas nas cordas amarradas ao pé de ipê, enquanto Dinho dormia em sua rede preguiçosa, embalado pelos ventos uivantes do pé de serra. Um paraíso muito particular, um cantinho de mato verde regado ao ar fresco, sem falar na vizinhança, pacata. Em cidades pequenas, dificilmente um acontecimento vira manchete de jornais de grande circulação, e as conversas de comadres só passam de boca em boca local. Houve um drama, uma vez, de repercussão regional, foi quando Joan, a filha do leiteiro, casou com Dinho das galinhas, filho do homem mais rico da cidade. Seu Fausto tinha cinco granjas, uma fazenda de gado de corte e um único herdeiro. Também, uma moça apanhada daquela, não tinha como deixar passar, a jovem era rica em beleza. Um casamento perfeito! Dez anos de união estável e cinco filhas lindas, mas as coisas saíram do trilho e a novidade veio dar na praça, é que Dinho das galinhas declarou-se estéril. Como? Isso mesmo, oco. Imagine as rendeiras de confusão tecendo fofocas e espalhando sua arte com babado e tudo. Uma balbúrdia na igreja, e padre Zezinho no meio, todos querendo saber e entender o milagre de Maria Joan Madalena. O que não faltava era judas, Pedro e Pôncio Pilatos, falaram tantas coisas, até afirmar que sabia, ouviu-se. Mas nunca ouviram falar nas técnicas de reprodução assistida.