SEMPRE ÀS QUINTAS FEIRAS

(Inspirado na  crônica "Cine Pipoca" do  amigo  Dartaghnan Ferraz)


Neste instante chiam pinhões de São José em cozimento na panela de pressão.Particularmente, os preferiria em panela de ferro, tipo aquelas "de tetinhas" que minha saudosa tia Lucinda utilizava sobre a trempe no terreiro de sua casa.
Enquanto a casa já começa a incensar-se ao delicioso cheiro dos frutos de inverno, e aí eu pergunto ao meu povo do Sul: Existe algo mais delicioso que isso ?,nesta tarde fria de domingo quando o céu intensamente azulado de abril não cede espaço para a carranca das núvens que tentam empana-lo, volto para minhas lembranças.
Quem não se recorda aqueles bons tempos dos cinemas?
A cabeça rodopia e de repente, eis-me numa noite da pacata Irati dos anos 70.
Diferente do frio de abril que agora experimento enfiado num agasalho leve, a noitada de minhas lembranças, é morna e tem o cheiro dos jasmins da 24 de maio, rua que leva ao amado Colégio São Vicente de Paulo.
No fim da rua,no ponto mais elevado da cidade, as janelas iluminadas do casarão amarelo, espiam a cidade em sua quase sonolência.
É quinta feira, e quinta é dia de bons filmes no Cine Theatro Central.E, como em toda quinta, é noite de gazear aula e "descer pro centro".
Maletas devidamente atiradas janela a fora, resta o "jeitinho" de driblar a administração e ganhar os ares de liberdade,tarefa que nunca foi lá muito complicada.
Uma vez na rua, pisando os paralelepípedos polidos de pneus ,lá se vai um pequeno grupo de projetos de boêmios.
Anêmicos fachos de luz vazantes dos postes, janelas enquadrando alguns aparelhos de TV ligados, a Santa, no alto da colina, lançando um olhar materno sobre a cidade e aquele cheiro!...
Dos jasmins da 24 de maio .;
Euforia e a pressa de nossos pés pisando a poesia da noite em nossa cidade.
Alguns sonhos, dentre eles, o maior de todos: Sair , depois da seção, de mãos dadas com a musa que nos inspirava, aos acordes de "Dio Come te amo" de Gigliola Cinquetti.
[ Vale lembrar que na maioria das vezes, tudo não passara de sonhos e tudo o que tínhamos às mãos ao sair do cinema , era a fria alça da maleta com materiais escolares ]
Mas, valia a pena, e nada era mais gratificante que dobrar a esquina e deparar-se com as luzes do cinema, com o burburinho da mais famosa das ruas e deixar-se encantar aos acordes de Rita Pavone, na ante sala do cinema,dizendo...
Fortíssimo !...

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https://www.youtube.com/watch?v=jxuzr_ebOf8