L á b a r o

NUNCA fui chegado aos hinos. Não aprendi nenhum deles. Nunca vibrei com hino. A minha visão de patriotismo nao tem nada a ver com hinos, bandeiras,desfiles. Mas sempre respeitei -e respeito - os que gostam de hinos e vibram com eles. Mas, confesso, tinha uma quedinha por um hino,acho que ligado à Marinha,um que, salvo engano, começava assim: "Qual cisne branco que em noite de lua vai navegando... ", e depois "Linda galera etc e coisa e tal". Por que gostava? Não sei, talvez porque fosse mais simples e parecesse menos militar.

Mas o que desejo contar é algo que achei hilário. Algo acontecido, pasmem, h´pa mais de 60 anos. Eu cursava a quinta série do primário, antes do admissão ao ginásio. A diretora era doida por desfiles e hinos. Eu era dispensado dos dois, da marcha por causa da asma, e de cantar o hino porque era muito desafinado.. Mas ficava assistindo os ensaios.

Um dia ela estava ensaiando o Hino Nacional com a quinta-série, quando chegou naquela parte que canta: " O Lábaro que ostentas estrelado...". ouviu-se uma voz potente pronunciar a palavra lábaro corretamente, como é escrita,obedecendo o acento no primeiro a e o o final aberto. A diretora gritou: Parou! Parou! E chamou à atenção do aluno que cantando apalavra lábaro tinha que ser pronunciada "labarú", sem considerar o acento e pronunciando o o como u. Isso por causa da melodia. Mas o aluno discordou e disse que um hino não poderia subverter a língua pátria, a língua estava acima do hino. Era um sujeito duro e muito inteligente. Resultado, diante do impasse o aluno foi dispensado dos ensaios do hino. Como eu comecei a rir, a diretora perguntou porque estava rindo. Fui sincero, da besteira da discussão, que era melhor substituir a palavra lábaro por bandeira. Ela ficou ainda mais raivosa e me excluiu de assistir aos ensaios. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 25/04/2021
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