A MORTE NÃO PASSAVA DE ILUSÃO
Se tivesse hoje (como tive e não faz muito tempo) alguém querido intubado numa UTI, gostaria de ter a certeza de que a morte não era o fim e que o corpo é apenas uma casca provisória para a alma eterna.
Mas como logo tive que vivenciar o luto, esse desejo foi rapidamente substituído pela dor concreta da perda e pelas atitudes burocráticas que o falecimento de alguém próximo exigem.
Enquanto perdurou a ilusão de que a cena daquela pessoa com algo descendo pela sua garganta seria apagada para estreá-la sã e salva, falando e sorrindo normalmente, confesso que sentia certo alívio, certo consolo, certa compaixão.
Mas quando a morte fez sua entrada triunfal e definitiva, ao som de trombetas alardeando o evento fatídico, caíram todas as fichas e pude chorar tudo que tive direito.