Todo ateu é crente
Vamos desenvolver esta hipótese do título desta crônica. Vamos lá então. A palavra “CRENTE” é apresentada nos dicionários com diversos significados. Vou listar alguns destes significados. Vamos ao primeiro significado da palavra “crente”: “aquele/aquela que acredita”. A frase foi simples e direta. Quase intuitiva, sendo assim, nem você e nem eu vamos precisar de qualquer especialista para nos fazer entender o que foi dito. No entanto, a frase não diz no que você ou eu devemos acreditar. Ficou em aberto, só afirma que acreditamos, mais nada. Vamos ao segundo significado da palavra “crente”: “aquele/aquela que tem fé religiosa”. Aqui, neste caso, a frase nos direciona para algo específico. Crente é a pessoa que tem uma fé religiosa. Mas, a frase não diz em qual religião. Fica, portanto, ao critério de escolha de cada pessoa. Agora vamos ao terceiro significado da palavra “crente”: “aquele/aquela que acredita facilmente em qualquer coisa; cândido; ingênuo; crédulo”. Neste caso aqui a frase diz que o crente é um “crédulo” devido ao fato de acreditar facilmente em qualquer coisa e, portanto, pode até se tornar uma pessoa “ingênua” ou “cândida”. Traduzindo: neste terceiro caso o “crente” se torna uma pessoa inocente de tão ingênua. É neste terceiro caso do significado da palavra “crente” que podemos provar a hipótese do porquê que todo ateu é um crente. A negação de Deus exige que o ateu tenha outros argumentos para contrapor aos “crentes” de fé religiosa”. Geralmente os argumentos do ateu se baseiam em raciocínios lógicos. Ele é um “crédulo” da razão. “Acredita” que a razão tem argumentos de autoridade para a negação de Deus. Ou poderá argumentar que “acredita” na ciência, como na biologia - com a teoria do evolucionista -, ou mesmo, com a física astronômica - com a teoria do Big Bang -; ou qualquer outra teoria cosmológica de razão científica. No entanto, o ceticismo filosófico diria que não há qualquer prova empírica que possa afirmar categoricamente a existência de Deus; como também não há prova empírica que possa negar a sua existência. As ciências empíricas não consegue provar nem desaprovar a existência de Deus. As ciências racionalistas, com suas teorias sem práticas, não passa de metafísicas platônicas. Portanto, a descrença do ateu é mais por um “credo” pessoal de não querer acreditar em Deus, do que por alguma comprovação científica. Mas como se trata de “credo”, portanto, ele pode e tem todo o direito de não acreditar em Deus, assim como o crente tem todo o direito de querer acreditar também. Por isso mesmo, todo ateu é um crente, pois é o “credo” que sustenta sua descrença. Quando o filósofo Aristóteles disse que: “o homem é um animal racional” penso que ele estava afetado por um grande delírio de otimismo. Nietzsche foi o primeiro filósofo que sistematizou como a racionalidade havia se tornado um “credo” religioso. Por isso, ele foi tão severo, em sua crítica, ao platonismo e ao cristianismo; compreendeu que a “razão” se tornaria uma ideia tão verdadeira que ocuparia o trono principal no panteão das divindades. Ele se entristeceu ao verificar que as universidades modernas, com suas ciências, estariam se tornando os novos “templos” das verdades lógicas e das certezas da vida. A “praga” de Platão havia sobrevivido mesmo depois da filosofia da razão – o Iluminismo. Nietzsche viu no “credo” aquilo que é mais risível e eterno no ser humano. Eu prefiro pensar que o “credo” é esta moeda com duas faces que nada tem de inocente ou ingênua, por vezes, o “credo” atua de forma maligna. O valor de cada uma delas depende do contexto histórico de nossas vidas.