A memória do computador a gente conserta e a do cérebro humano?
Meu computador travou e para levá-lo para arrumar fiz uma pequena viagem. Embarquei na estação de metrô da rua Oscar Freire, meio mais rápido para chegar da minha casa ao largo de Pinheiros onde ficava a loja. Desci na estação Faria Lima com o Notebook dentro da mochila e caminhei algo em torno de 800 metros, passando por uma praça perto da estação, onde moradores de ruas e desempregados passam o tempo, mais conhecida como largo da Batata, perguntando-me; como essas pessoas faziam suas necessidades intimas? Não sei responder, por que os bares e restaurantes da região só deixam clientes utilizarem o banheiro gratuitamente. É uma incógnita!
Enfim, passei em frente à Igreja, que está sempre fechada, atravessei essa praça preocupado com assalto. Em São Paulo há tantas histórias, e tantas modalidades de crimes que a gente anda assustado, andei com um olho na frente e o anjo da guarda tomando conta das minhas costas e muito receio. Afinal carregava algo de muito valor pra mim; meu Notebook com meus arquivos pessoais que apesar de velhinho quebrava o maior galho e não gostaria de perdê-lo por nada.
Finalmente cheguei à loja, esperei pouco e um jovem com a idade do meu filho me atendeu. Foi só ligar o computador e digitar algumas teclas e logo diagnosticou que era algo simples, pra ele é claro, teclou aqui e ali novamente e destravou o computador, segundo ele o problema era na configuração. Coloquei e tirei os óculos algumas vezes tentando acompanhar o que ele fazia, aprendi um pouco de computação. De volta pra casa fiz o mesmo trajeto com os mesmos receios; atravessei a praça e após duas estações com o metrô lotado cheguei ao lar doce lar.
Aí, já dentro de casa fui pegar os óculos na mochila e descobri que não estavam lá. Cadê meus óculos? Ficou na loja, pensei! Não posso ficar sem eles, são para leitura apenas, mas sem eles fico quase cego. Não dá pra ler um livro ou um jornal. Sem ele não consigo ler nada. Nervoso resolvi imediatamente voltar a loja. Uma repetição da maratona, fiz o mesmo o trajeto rebobinando na mente o filme do instante em que sai da loja até minha casa, reprisando na memória cada passo que dei na esperança de lembrar onde havia deixado os óculos; embarquei de novo no metrô, atravessei a praça, passando em frente à igreja e novamente cheguei à loja na expectativa de encontrá-lo, o mesmo rapaz me atendeu e disse; sim eu vi o senhor com os óculos, mas aqui não ficou, sinto muito.
Depois de quatro viagens de metrô, e duas caminhadas por aquela praça nada amigável, estava cansado e nervoso. Considerei definitiva a perda dos óculos e retornei pra casa. Contei pra todo mundo o que acontecera. A empregada solidaria ofereceu um par de óculos que tinha achado. Trago amanhã para o senhor. Exclamou! No café da manhã do dia seguinte ela os trouxe. Era uma armação até bonita. Experimentei, ele tinha pouco grau, dava pra quebrar o galho. Gostei! Apesar de não ser recomendado usei-o um ou dois dias, logo em seguida decidi comprar um desses baratinhos vendidos em bancas de jornais, com o grau compatível com o meu perdido. Como era só para leitura, comprei um com armação preta e azul por dentro, lente de 1,75 grau indicado na receita de quando fui ao oftalmologista. Dias depois, em casa mexendo em algumas velhas mochilas, fui guardar aquela que usará para transportar o notebook, e então pra minha surpresa, meus óculos originais estavam lá, e eu havia feito tanto barulho, e passado por tanto nervoso por nada. Provavelmente como a caixinha dos óculos era preta e a mochila também, ele estava meio camuflado ou eu não procurei direito. Agora tenho dois pares de óculos, tudo isso aconteceu por uma falha no computador humano. Pena que não há uma oficina para o desgaste da memória no cérebro.