A rotina
A rotina tem despertado a minha atenção e, ao procurar entendê-la percebi pontos coincidentes entre a minha rotina e a dos outros, via de regra, com incríveis semelhanças. Ao olhar para dentro da minha rotina, inicialmente tive o choque da percepção crítica. Este ente abstrato tomou forma e corpo e me fez enxergá-la como algo pegajoso e de uma realidade um pouco assustadora e, à medida que tentava analisá-la numa dimensão maior constatei que ela era revestida com toques de universalidade e que se tratava de algo pesado, com efeitos paralisantes. E, foi nesse momento que me veio à mente o conto de Franz Kafka a Metamorfose, no qual ele traduz o seu sentimento a respeito da atribulada vida de um vendedor, levando-o a condição de inseto, o que penso ter sido uma adequada definição para falar de um dilema da humanidade: a neurose da rotina crônica.
A alta densidade de pessoas em espaços limitados, a competição desumana em busca do trabalho e a concentração das atenções de forma egoística nos remete para a busca de recursos de sobrevivência que, independente da condição social, não diferem na sua essência.
Mas, por outro lado, admito que precisamos ter uma rotina, pois ela funciona como uma agenda para nos situar numa projeção de futuro. É como pegar o leme de um barco e dizermos: nós vamos por aqui, com base, é claro, nos nossos conhecimentos náuticos.
Também tenho dúvidas sobre o quanto podemos alterar a nossa rotina, já que fazemos parte de um sistema familiar, político e social que ultrapassa a nossa liberdade de decisões, ou seja, estamos interligados a um sistema maior, o que significa que, de certa forma, funcionam como elementos condicionantes, sejam eles circunstanciais ou não.
Todavia, entendo que seja razoável que identifiquemos o quanto estamos envolvidos com a rotina sistêmica, aquela que nos leva ao condicionamento doentio e que nos impede de ver a luz do lado de fora do nosso conhecido refúgio de hábitos, caminhos e ações. Penso ser razoável que queiramos ver outras luzes; que consigamos explodir o nosso estado de conforto e passemos a usar o tempo para realizações mais prazerosas. E, porque não, de parar para pensar se estou contente ou não com a minha rotina...