Duas garotas no banheiro

Notas para Azul Perfeito:

Gwen & Nico

Guinevere não premeditava suas abordagens, não tem o encanto do primeiro encontro, pensava ela. Então ao observar aquela destoante garota se esbarrar com ela, entre tantos corredores, salas e entradas, começou a pensar fixamente na ideia de puxar assunto.

Mas até ela tinha princípios, e antes, gostaria de saber o nome da garota. "Nicole" ouviu de uma pessoa.

"Será que ela vai reparar no meu cabelo rosa? Caramba, meu Gaydar não para de dar sinal" dizia ela pra si mesma.

Todavia, constatou uma coisa que atrasou o primeiro contato em pelo menos duas semanas.

Nicole tinha jeitos modestos de se vestir, nenhuma maquiagem, nem sequer batom 💄. Seu cabelo estava sempre educadamente preso, suas roupas nunca mudavam do jeans e uniforme, e isso fez Guinevere desconfiar um tanto:

"Se ela é tão simples, por que sinto essa enorme pressão vindo dela?

O que há de errado com essa garota? Será que meus instintos me enganam?

É como se ela fosse um enorme elefante azul dentro do quarto..."

A garota começou a se tornar um mistério, não tinha redes sociais, e não andava com telefone, sempre se escondia entre outros colegas, mas as vezes simplesmente desaparecia. Gwen começou a se sentir intimidada e sua vontade de conhecê-la só aumentava.

Em uma sexta feira, perto do horário de saída, viu Nicole sozinha lavando seu rosto no banheiro. Aproximou-se, como quem ia lavar a mão e disse:

- Oi Nico, como está? - Gwen puxou assunto em total improvisação, e disse o nome dela propositalmente com o intuito de demonstrar algum tipo de intimidade. Nicole girou seu rosto em direção a garota que a chamava, seus olhos que não revelavam quase intenção alguma, apenas estavam atentos no cabelo tingido de Gwen.

- Ah, eu vou bem, por acaso alguém mandou me chamar?

- Naah, eu também estou matando aula...

- Ahh entendi... E você Guinevere? Como está?

A última fez com que Gwen hesitasse profundamente. "Como ela sabe meu nome? Será que percebeu que eu a estava vigiando? Não... Impossível, só pode ser coincidência." Nisso, procurou tomar muito cuidado para não mentir na frente de Nicole, e sem perder o sorriso, fez uma pergunta intimidadora que a fez ter de volta dominância no assunto:

- Eu também estou de boa, pelo menos não morri com a aula do Lucas. Tenho uma pergunta pessoal para você, se importa em responder?

- Hmmm direto ao ponto... Pode falar, talvez eu responda, talvez não.

- Com que idade você perdeu a virgindade?

- Foi com 16, e eu estava ouvindo Fifty Harmony. E quanto a você?

- Eu estava ouvindo Paramore, e estava muito chapada. Nem vi quando terminou.

- Eu não acredito que você também escuta Paramore, tenho uma blusa deles.

- Eu amo eles, e eu tenho um amigo que tem um dedal do guitarrista.

- Me apresenta ele um dia.

Nicole respondeu as perguntas sem sequer pensar duas vezes, o que deixou Gwen perplexa. E ainda havia o fato de Nicole conhecer seu nome antes mesmo dela ter se apresentado, o que só deixava as coisas mais intrigantes...

Para continuar no ritmo dessa conversa estranha, Gwen tentou introduzir um assunto específico e ver a capacidade de Nicole de argumentar sobre algo que não conhecia, e novamente se surpreendeu com sua voraz interlocutora:

- Te apresento sim! Sabe, as vezes eu fico refletindo sobre amizades. É tão estranho o relacionamento complexo que o ser humano consegue criar com seu semelhante e com as coisas ao seu redor, mas que por algum motivo, na maioria das vezes é um relacionamento tóxico. Veja, falamos de amizade para sempre, mas todos sabemos que assim que o ano letivo acabar provavelmente vamos perder a maioria dos amigos da escola, isso se um ou outro restar... Isso me incomoda um tanto, então por que sequer fazer amizades? - Gwen questionou tão casualmente que parecia um assunto ignorável. Porém Nicole fechou o rosto e começou a entrar em um profundo transe reflexivo, até que respondeu:

- Hmmm... Todos nós somos tóxicos! É uma característica natural do ser humano. A vida terrena é muito longa para a reprodução, mas muito breve para o aprendizágio, por isso vivemos míopes até aprendermos quando já se é tarde demais (Isso quando sequer aprendemos). Mas se há algo que eu aprendi e tenho observado nas relações que cultivo, é que é necessário ser extremamente realista para saber quando você precisa lutar por uma relação e quando você deve partir. Na verdade, é muito mais difícil saber quando precisa sair do que quando precisa ficar. É uma decisão que não pode ter egoísmo, ou você perde alguém que não precisava perder. No mais, pessoas não são posses, por isso é etimologicamente errado usar a palavra "perder", pois elas são partes de você, construindo e moldando o que se tornará eventualmente sua própria individualidade. Perder contato não significa perca de laços, apenas mudanças de contexto e demandas...

Gwen não esperava por resposta tão detalhada, de modo que sua única reação esboçada foi um tenro silêncio contemplativo em direção a Nicole. Desse modo, começou a notar nuancias no aspecto dela que antes passaram-lhe desapercebidas...

Aos poucos, começou a ver os detalhes dos olhos amendoados de Nico, que tangiam a um preto profundo e não muito revelador. As pálpebras de aspecto infantil, as sardas quase desmanchando ao redor de seu rosto, as orelhas, nariz e lábios pequenos, tudo isso somado a um sorriso delicado e ligeiro. Toda essa constatação não durou mais que um décimo de fração de segundos, porém, o silêncio extendida-se por diversas eternidades, até que a própria Nico o quebrou dizendo:

- Você não me abordou só para perguntar isso, né? Por que não diz suas reais intenções?

- Certo, mas antes, como você sabe meu nome?

- Todos conhecem a degenerada Gwen, o diretor falou mal de você em todas as salas...

- Você está em contradição, me diga a verdade... Como que descobriu ? - Negociou Gwen ao notar a malícia no rosto de Nicole.

- Hmm, você é bem esperta, digamos que eu tenha gostado do seu cabelo, e o resto você já sabe, já que também me stalkeiou.

- Ahh, desde quando você sabe que me interessei por você?

- Seu olhar nunca mentiu para mim. Ou você acha que foi coincidência termos nos esbarrado tantas vezes no corredor?

- Nicole, isso é bem desleal, ficar sempre a um passo a frente. Não vai me dizer que também planejou nos encontrarmos aqui?

- 50%

- O quê?

- A possibilidade de você vir aqui ou não. Para mim é um mero jogo de gato ou rato, quando percebi seu interesse apenas tratei de fazer as coisas funcionarem a minha maneira...

- Ok... Então por que não me diz o meu próximo passo?

- Você quer tentar algo comigo, vai me convidar para sair, ou para simplesmente ficar. Mas não é a mim que você quer, você só está procurando uma aventura nova, alguém diferente para ficar. Então quando se enjoar, ou a aventura se tornar um fardo, vai dar um jeito de terminar.

- Ual, você descreveu todos os meus relacionamentos. Se você já sabe como começa e como termina, suponho que então você não tem interesse, correto? (Ela disse isso, mas sabia que Nicole queria algo a mais, senão simplesmente a evitaria)

- Guinevere, você entendeu errado. Eu não sou a sua caça, eu sou sua caçadora. Eu quem determino as regras por aqui, e você é minha presa.

- Certo, eu sou sua presa, e aqui é seu covil... Então por que não me convida para sair nesse sábado, já que insiste tanto em ter o controle?

- Hmm Sábado? Por que não agora? Já te vi pular esses muros da escola dezenas de vezes.

- Você venceu, pega sua mochila.

Os instintos de Gwen não se enganaram quanto a Nicole. O elefante azul na sala tornou-se a própria sala, pra ser exato no quarto de Gwen (A mãe dela não se importava).

Notas para PerfeBleu, teste de personagens. Ficou meio viajado no final... Sinceramente isso sempre ocorre.