A traição de Cacá

Cacá traiu a Tininha numa tarde de verão. Era um dia lindo, destes ensolarados, nem frio, nem quente em demasia, enfim um dia convidativo para uma caminhada á beira mar, numa lagoa, num rio, numa piscina ou numa academia. Tininha não abriu mão da academia, quando Cacá convidou-a, para tomar um sorvete no calçadão.

- Tá maluco? Desprezar um tempo precioso destes andando pelas ruas, e tomando sorvete? Sorvete engorda. Eu quero emagrecer.

- Não entendo como alguém em sã consciência desperdiça um dia destes trancafiada numa academia.

Ser marido da Tininha, a mulher perfeita, era barra, mas de cereal light, faça-se um adendo, já que os demais engordam, e Cacá sabia disso. Procurava de muitas maneiras não ligar para isso. Mas com uma mulher perfeita andando pelas ruas, os postes fazem reverencia, e homens mal intencionados que batiam com o carro, ou com a cara nos postes, viravam alegria de massagistas, tal era o numero de torcicolos registrados. Quase não dormia á noite, imaginando aquela loura escultural caminhando nas ruas, acidentes, postes caindo, buzinas, enfim, o caos.

Fazer o que? Caminhou serenamente, enquanto pessoas reuniam-se em tono das sorveterias ou procuravam tomar alguma coisa gelada, Cacá procurava esquecer-se da vida. Pediu um sorvete. Uma morena muito linda, corpo escultural, “mulherão” mesmo, coxas grossas bem torneadas, seios fartos, lábios carnudos... quase gaguejou na hora que aquilo tudo junto sorrindo lhe perguntou:

- Que sabor?

Isso lá era pergunta que se fizesse, numa hora destas.

- Cho...cho...cho...

- Chocolate?

- Is...is…so!!!

Sentou-se numa posição, que via a morena por inteiro, enquanto saboreava o sorvete com as idéias fervilhando, na sua frente à imagem da Tininha lhe reprimindo pelo fato de estar tomando sorvete, depois da cervejada com os amigos depois do jogo no final de semana, que ia ficar com uma barriga.

Acabara o sorvete, a imagem da loura escultural, mulher perfeita, vulgo tininha, não lhe dava visão da morena, que sorridente e alegre continuava na árdua tarefa de servir sorvetes. Estava certo que sua mulher lhe tratava de uma forma absurda, menos valorizado que uma esteira ergométrica, ou um fitness, mas sua moral não permitiria tal insanidade. Queria voltar lá. Uma guerra interior crescente, numa batalha para levantar da cadeira, caminhar até a morena, pensando na Tininha, na sua moral, na sua vida sexual, o domínio da mulher sobre ele...

Era hora de cortar as amarras.

- Dane-se Tininha.

Caminhou decidido, rumo áquele sorriso cativante, estava disposto a trair a mulher, pediu um de morango duplo, com cobertura de chantili. Essa a Tininha não iria suportar.

J B Ziegler
Enviado por J B Ziegler em 05/11/2007
Código do texto: T723815
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