OLHE NOS MEUS OLHOS
Por Gustavo do Carmo
No livro Olhe Nos Meus Olhos, de John Elder Robison, o autor conta a sua vida com a Síndrome de Asperger, um tipo mais leve de autismo com o qual cresceu, mas só descobriu aos 40 anos, quando já tinha a sua vida formada, com filhos, formação de engenharia e uma loja com oficina de veículos usados.
Eu descobri, comprei e li este livro há treze anos e logo comecei a me identificar com o transtorno. O autor é bem diferente de mim. Na época, eu já tinha 30 anos, mas a minha cabeça não amadurecia e tinha um único amigo pela internet. Fiz pós graduação em telejornalismo logo no ano seguinte, mas abandonei faltando duas matérias para terminar e sem nenhum amigo. E ainda rompi com o tal amigo da internet.
Em 2018, quando a minha mãe teve uma convulsão em Cabo Frio e ficou com demência, fiquei deprimido por causa dela e do sucesso profissional de uma ex-colega dessa pós, que havia me pedido para entrar num grupo de trabalho e hoje é repórter de destaque na Rede Globo de Brasília. Fiquei com vergonha de mim mesmo.
Comecei a procurar contato e ela não me respondia. A minha depressão piorou e não conseguia nem comer. Preocupados, meu pai e minha prima me convenceram a ter uma consulta com um psiquiatra indicado por esta. E o Dr. Caio Abujadi me diagnosticou com... Síndrome de Asperger, a mesma do livro, que peguei imediatamente na minha estante para reler.
Embora eu tenha em comum com o autor o espectro e a idade quando descoberto, ele é bem diferente de mim. Ele se desenvolveu mais. A descoberta dele foi até por acaso, conversando com um amigo psiquiatra para quem vendeu um carro. Eu tive que pagar consulta. Já estou me convencendo de que o meu autismo é mais severo que o Asperger, embora mais leve que o autismo que todos conhecem.
Não vou fazer resenha do livro, mas apenas uma indicação para que as pessoas leiam e compreendam a minha dificuldade de interação social, inclusive com a própria repórter da Globo, que me bloqueou no Instagram após eu fazer um comentário reprovando um livro indicado por ela. Isso depois da jornalista me agradecer por eu participar do seu Instagram em uma mensagem gentil, mas por mera formalidade (talvez eu tenha errado também, só que pedi desculpas e ela não aceitou e sequer me desbloqueou).
Enfim, que este texto também sensibilize ela, outros ex-colegas e conhecidos preconceituosos (desculpe, não queria dizer isso) que tanto debocharam de mim e me menosprezaram.