A BRIGA
No calor do meio dia, uma discussão acalorada, bem no meio da praça movimentada da tão antiga cidade. A estátua alva, de tradicional pose imponente, parecia até distrair-se de sua altivez para observar o que aqueles dois homenzinhos estavam a discutir com tanta agitação.
Era um pondo o dedo no rosto do outro e outro vociferando tão alto que até a águia que voava o mais alto dos céus conseguia ouvir.
Xingamentos, insultos, ameaças. Tudo isso reuniu uma grande multidão ao redor dos dois em pouquíssimo tempo - umas trintas pessoas já correram para perto já no primeiro grito. Aquilo tudo já estava a durar uma meia hora. Nota: absolutamente ninguém ali sabia a razão daquilo.
A "plateia", tão animada quanto a discussão, em deleite com os afrontes e provocações, suplicava para que o imbróglio evoluísse e desse um quê a mais de entretenimento.
Sim, queriam uma briga.
Estavam todos tão obcecados com a situação que se deixaram até esquecerem do real motivo que por ali estavam. Afinal, ninguém simplesmente brotou do chão apenas para apreciar a troca de elogios entre os dois.
Mas não importava, dois homens estavam prestes a trocar socos numa praça lotada e ninguém queria perder isso.
E, quando, enfim, os dois sinalizaram que partiriam para a tão aguardada luta, se abraçaram fraternalmente e seguiram o rumo, cada um. Deixando todo aquele povo faminto por cheiro de sangue e ruídos de dor em total crise existencial.