A BRIGA

No calor do meio dia, uma discussão acalorada, bem no meio da praça movimentada da tão antiga cidade. A estátua alva, de tradicional pose imponente, parecia até distrair-se de sua altivez para observar o que aqueles dois homenzinhos estavam a discutir com tanta agitação.

Era um pondo o dedo no rosto do outro e outro vociferando tão alto que até a águia que voava o mais alto dos céus conseguia ouvir.

Xingamentos, insultos, ameaças. Tudo isso reuniu uma grande multidão ao redor dos dois em pouquíssimo tempo - umas trintas pessoas já correram para perto já no primeiro grito. Aquilo tudo já estava a durar uma meia hora. Nota: absolutamente ninguém ali sabia a razão daquilo.

A "plateia", tão animada quanto a discussão, em deleite com os afrontes e provocações, suplicava para que o imbróglio evoluísse e desse um quê a mais de entretenimento.

Sim, queriam uma briga.

Estavam todos tão obcecados com a situação que se deixaram até esquecerem do real motivo que por ali estavam. Afinal, ninguém simplesmente brotou do chão apenas para apreciar a troca de elogios entre os dois.

Mas não importava, dois homens estavam prestes a trocar socos numa praça lotada e ninguém queria perder isso.

E, quando, enfim, os dois sinalizaram que partiriam para a tão aguardada luta, se abraçaram fraternalmente e seguiram o rumo, cada um. Deixando todo aquele povo faminto por cheiro de sangue e ruídos de dor em total crise existencial.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 21/04/2021
Código do texto: T7238021
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