NÃO DUVIDE DE NADA
Outono
Bendito outono
Outono
Maldito outono
Não estou acordado
Nem repousado no sono.
Não tem jeito. Outono me deixa sem inspiração. Veja que hoje é dia de Tiradentes. De quantas coisas eu poderia estar falando? Mas não. Não tenho nada para dizer.
Nem na prosa e nem nos poemas, nada sai. Eu tento uma cronicazinha e nada mesmo.
Olho pela minha janela. O meu pai passa com o peso de todos os outonos já vividos e de tantas construções nos ombros. Sorridente e sabedor de que na viola ele manda bem. Eu diante da tela em branco. Nem folha de papel. Espremo meus escassos neurônios e não consigo extrair uma xícara de texto deste outono.
Uma pessoa que conheço está falando de primavera. Ela gosta muito da ilha da Madeira e lá é primavera. Eu não sei se ela está em domínios portugueses fisicamente, mas sei que Madeira não sai de dentro dela. Então sigo com minha puta agonia de não ter o que escrever. Meus dedos tremem, mas eu os domino. Era besteira o que eles estavam prestes digitar.
Dou um suspiro, levanto-me, vou até a cozinha e pego uma xícara de café, sem açúcar ou qualquer outro adoçante, como eu gosto, e vou bebericando devagar. Café é a única coisa que bebo do mesmo jeito em qualquer estação. É minha única regalia que o outono não interfere. Bebo como quem degusta um belo poema. Nem quente, nem frio. E o café não me deixa dormir. Mas este outono vazio não me deixa acordar.
A viagem para Ouro Preto, a Vila Rica do tempo dos inconfidentes, vai ficando para depois. A pandemia restringe meu espírito de aventura. Esta vontade de ganhar o mundo, ver campos verdejantes e cidades monumentais. Inserir-me na história que até então não me pertencia, como J. Pinto Fernandes. Mas só inserir. Não quero me casar com quem não amava ninguém.
Outono e pandemia combinados é dose para leão. Eu espero o inverno que é o último passo para a primavera. Enquanto inverno não temos, vamos de outono neste ferido obscuro em que temo ir até mesmo a Colatina visitar alguém queridíssimo. O Sarau dos Poetas Inconfidentes não aconteceu. Mas o sonho segue. Talvez um grupo dos Poetas Inconfidentes do Leste. Acho que vai ficar legal. Algo a ver com os Sertões do Leste, um tema histórico que me encanta. Algo a ver com os campos verdejantes e a vida simples, bucólica, de uma Arcádia que está dentro de cada mineiro.
Costa, Gonzaga, Peixoto e Heliodora, a Bárbara. Nomes que me consolam em um outono traidor como o coronelzinho.
Só falta alguém dizer que a Inconfidência Mineira era um movimento para implantar o comunismo. Alegar que foi encontrado um exemplar de O Capital na casa do alferes dentista. Dúvida? Não duvide de nada no outono.
FONTE DA IMAGEM: santhatela.com.br/ Thomas Cole: Sonho de Arcádia (1838),
Outono
Bendito outono
Outono
Maldito outono
Não estou acordado
Nem repousado no sono.
Não tem jeito. Outono me deixa sem inspiração. Veja que hoje é dia de Tiradentes. De quantas coisas eu poderia estar falando? Mas não. Não tenho nada para dizer.
Nem na prosa e nem nos poemas, nada sai. Eu tento uma cronicazinha e nada mesmo.
Olho pela minha janela. O meu pai passa com o peso de todos os outonos já vividos e de tantas construções nos ombros. Sorridente e sabedor de que na viola ele manda bem. Eu diante da tela em branco. Nem folha de papel. Espremo meus escassos neurônios e não consigo extrair uma xícara de texto deste outono.
Uma pessoa que conheço está falando de primavera. Ela gosta muito da ilha da Madeira e lá é primavera. Eu não sei se ela está em domínios portugueses fisicamente, mas sei que Madeira não sai de dentro dela. Então sigo com minha puta agonia de não ter o que escrever. Meus dedos tremem, mas eu os domino. Era besteira o que eles estavam prestes digitar.
Dou um suspiro, levanto-me, vou até a cozinha e pego uma xícara de café, sem açúcar ou qualquer outro adoçante, como eu gosto, e vou bebericando devagar. Café é a única coisa que bebo do mesmo jeito em qualquer estação. É minha única regalia que o outono não interfere. Bebo como quem degusta um belo poema. Nem quente, nem frio. E o café não me deixa dormir. Mas este outono vazio não me deixa acordar.
A viagem para Ouro Preto, a Vila Rica do tempo dos inconfidentes, vai ficando para depois. A pandemia restringe meu espírito de aventura. Esta vontade de ganhar o mundo, ver campos verdejantes e cidades monumentais. Inserir-me na história que até então não me pertencia, como J. Pinto Fernandes. Mas só inserir. Não quero me casar com quem não amava ninguém.
Outono e pandemia combinados é dose para leão. Eu espero o inverno que é o último passo para a primavera. Enquanto inverno não temos, vamos de outono neste ferido obscuro em que temo ir até mesmo a Colatina visitar alguém queridíssimo. O Sarau dos Poetas Inconfidentes não aconteceu. Mas o sonho segue. Talvez um grupo dos Poetas Inconfidentes do Leste. Acho que vai ficar legal. Algo a ver com os Sertões do Leste, um tema histórico que me encanta. Algo a ver com os campos verdejantes e a vida simples, bucólica, de uma Arcádia que está dentro de cada mineiro.
Costa, Gonzaga, Peixoto e Heliodora, a Bárbara. Nomes que me consolam em um outono traidor como o coronelzinho.
Só falta alguém dizer que a Inconfidência Mineira era um movimento para implantar o comunismo. Alegar que foi encontrado um exemplar de O Capital na casa do alferes dentista. Dúvida? Não duvide de nada no outono.
FONTE DA IMAGEM: santhatela.com.br/ Thomas Cole: Sonho de Arcádia (1838),