Fofocas do Amorim

– Como saberei que é?

– Ao saber que não é.

– Boa! Aliás, ótima, Senhor Mestre dos Magos! Essa foi criatividade pura, Homem! Só que eu fiquei na mesma!

– Como assim "na mesma"? O que, exatamente, Você NÃO entendeu?

– Quanto àquela oportunidade de ter chegado à pessoa certa e obter o emprego certo? É o que eu mais queria agora... Entende a tal da "mesma"?

– Naturalmente. Compreendo-o, sim, em grau, gênero e número. Explico melhor, então. Você só saberá que a oportunidade chegou, que bateu à tua porta, quando Você estiver preparado para ela. Muitos becos sem saída nos aparecem do nada, muitas falsas oportunidades (de emprego etc.). Cabe a nós saber, via escrutinação, o que realmente é-nos necessário. A posteriori, ou seja, com base em tua experiência, o que lhe parece certo, adequado, essencial a ti?

– Muito dinheiro. Muuuuuita grana mesmo.

– Independente dos meios para obtê-lo?

– Olhe, devo reconhecer que não. Obter somas vultosas em dinheiro, por vias ilícitas ou moralmente questionáveis, não me parece algo que tenha a ver comigo não. De modo algum. Quero, sim, ter muita grana. Para viver melhor.

– Cada um sabe o melhor para si. Como, onde e por que viver melhor. Não se pode questionar isso, vai de cada pessoa. Agora, uma qualidade Você demonstrou ter: a consciência dos valores éticos. Não lucrar, não obter cifras a partir de meios sub-reptícios, de modos desonestos e/ou que resulte em prejuízo dos outros. Isso é deveras uma qualidade raríssima hoje em dia. Ainda mais num país como nosso, em que a maior parte das pessoas crê na "Lei de Gérson", a qual prega levar vantagem em tudo, tudo, tudo. Ora, voltando à tua pergunta... Há, por certo, algo em comum em todas as falsas oportunidades que "bateram à tua porta" até hoje. Você deve saber que pontos elas tiveram em comum, certo? Logo, esse seria um primeiro passo para identificar uma oportunidade autêntica, "dourada", brilhante, apropriada a quem deseja, como no teu caso, lucrar muito, a partir do emprego perfeito. Todavia, devo advertir que o emprego perfeito, longe de trazer muito dinheiro, começaria por lhe trazer muita satisfação. Daí em diante você poderia começar a separar um percentual significativo de teu salário (algo em torno de seus 20%) e criar uma Reserva de Emergência que tivesse a equivalência de um a dois anos de salário. Muitas pessoas falam em seis, oito meses. Mas quanto maior for a reserva de emergência, mais garantias você terá para se manter durante um período negro e doloroso como esse, terrivelmente marcado pela Pandemia do Coronavírus. Outra coisa: após contar com uma reserva de emergência, estando ciente de sua estabilidade profissional, passe a investir em renda fixa, além da famosa poupança (onde deve constar tua Reserva de Emergência). Eu recomendo o Tesouro Direto IPCA+. Com prazo de vencimento para daqui uns 10 anos no mínimo. Investindo entre 20 e 30% de teu salário.

Andorim, digo, Amorim, olhava o amigo que dava ótimos conselhos com um ar de surpresa e, ao mesmo tempo, contentamento. Como se o "Mestre dos Magos" tivesse revalado a ele que o Poder do Discernimento já tivesse nascido com Amorim. Com efeito, essa faculdade mental já nasce com a gente. O que nos falta é treiná-la.

Outra coisa, tá, leitor? Eu imagino que o título da presente crônica o tenha feito chegar até aqui e se decepcionado por não encontrar nenhuma "fofoca do Amorim". Na verdade, o título me veio à cabela após ter passado os olhos num rótulo em que estava escrito "Paçoca de Amendoim". Eu li "Fofoca do Amorim". Como o fiz, de modo equivocado, em outra vez, ao passar por um poste em que um cartaz anunciava algumas bandas. Uma delas se chamava "Nova Pegada". E, para o Vosso riso, creia-me, é verdade, eu tinha lido "Nega Pelada". Pode rir. Eu mesmo rio disso. A propósito, eu cito Nietzsche nesse caso: "Moro em minha própria casa/Nada imitei de ninguém/E rio de todo mestre/Que nunca ri de si também". Amém, meus Irmãos. Amém.