FECHA-SE O PANO

As artes cênicas mineiras estão de luto. Faleceu no último domingo, dia 18, numa casa de idosos em Belo Horizonte, a atriz Wilma Henriques, aos 90 anos. Ela fez também novela e cinema, mas o teatro era a sua praia. Foi eleita oito vezes a melhor atriz mineira nos palcos. Entre outros sucessos, encenou a Prostituta Respeitosa, de Jean Paul Sartre. Nasceu em Conselheiro Lafaiete, meu segundo berço natal. Por isso, a perda me entristece duplamente.

O destino parece muito irônico nesses casos. Não tem muita consideração com as deusas do cinema e do teatro, que encantam gerações através dos tempos. Pelo mundo afora, são vários os casos de atores e atrizes que, depois de levarem vida aos espectadores, morrem no abandono. Tônia Carrero, nossa primeira-dama do teatro, antes de “ficar encantada”, sofreu por alguns anos hidrocefalia oculta, que lhe retirou a fala e os movimentos. Imaginem: uma atriz, a melhor delas, sem voz e sem ação. Chega a ser crueldade.

A nossa querida Wilma não pôde ser velada no Palácio das Artes, com todas as honras fúnebres, por questões sanitárias dos tempos atuais. Desce aos sete palmos de terra como uma anônima qualquer. E pensar que, ao se mudar para a Casa Lar Viver Melhor, por vontade própria, disse: “É aqui mesmo. De Deus espero sempre o melhor.”

Ela partiu, sem alarde, mas não cairá no esquecimento. Para pessoas iguais a ela é que cabem, como a mão e a luva, as palavras de Antoine de Saint-Exupéry, no Pequeno Príncipe: “Aqueles que passam por nós não vão sós; deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.

Já imagino Wilma entrando no céu, sem pedir licença, como entrou a Irene de Manuel Bandeira. Lá também, certamente, haverá um palco guardado por querubins, onde ela, concluída a ascensão, fará sua estreia com todas as pompas celestiais.

Eu a imagino reencenando, lá, O Menino e o Vento, a história de um garoto, alegre e brincalhão, que sofre agressões e cuja morte, brutal, gera um redemoinho de acusações entre os suspeitos. O ator de quatro anos que vai contracenar com ela chegou ao paraíso um pouco antes, no dia 08 de março, e tem uma história semelhante à do menino do vento. Chama-se Henry Borel. Também alegre e brincalhão, já terá esquecido e perdoado os maus tratos sofridos na sua curta infância aqui na Terra.

Sucesso garantido, portanto, no palco celestial. Para nós, fecha-se o pano com a morte de Wilma Henriques. Mas ela ouvirá de novo, em toda a sua glória, as palavras mágicas que iluminaram sua vida:

- “Luz! Câmera! Ação!

Pereirinha
Enviado por Pereirinha em 20/04/2021
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