13 pessoas à mesa na casa da sogra

O último domingo do mês o almoço era sagrado na casa de Aurora e Otávio com a presença das três filhas e três genros; dois filhos e as duas noras e uma filha ainda solteira. A soma, com o casal, totalizava 13 pessoas. Crianças não entravam na conta. Segundo Aurora, não tinham pecados. São anjos.

Na parede de bem decorada sala de refeição, a imagem da Santa Ceia era objeto de veneração da anfitriã que nunca fazia parte da mesa quando a soma era 13. Dá azar. Inventava outros afazeres e só almoçava quando uma cadeira estivesse desocupada.

Aurora não gostava das duas noras e menos ainda de Agacir, o primeiro genro. Por ela, se alguns desses não viessem, não fariam falta. Agacir sabia e fingia ignorar tratando-a de minha sogra ‘mais querida’ tendo sempre à mão o copo de caipira que dividia com o sogro.

Aurora mudou de religião e seu pastor a dissuadiu dessa implicância com o 13. A mesa estava completa.

Nos dois últimos encontros, Agacir esteve calado, não bebeu, pouco comeu e 10 dias antes do terceiro almoço morreu de cirrose hepática.

Agora, antes do garfo visitar seu prato, Aurora olha para o quadro no alto da parede e silenciosamente executa uma oração escondendo um sorriso de satisfação.