A arte mais pobre

Gilmar de Carvalho nos deixou vítima da Covid-19, aos 71 anos. Ele morreu fisicamente. Mas seu legado ficará para sempre na cultura cearense. Sempre vi seu trabalho nas matérias que ele fazia sertão adentro em busca dos mestres dos saberes do nosso Estado. Atrás de rabequeiros, de cordelistas, de repentistas e todos os tipos de pessoas que dedicavam sua vida a espalhar o folclore do nosso povo.

Ele era professor que formou muitos comunicadores. Eu também jornalista formado, não tive o prazer de estudar com esse homem de tanta sabedoria. Eu só vi ele pessoalmente uma vez. Foi há mais de um ano, dentro de um ônibus no caminho da Beira Mar de Fortaleza. Lembro-me como se fosse hoje. Eu atravessei a catraca e me sentei. Quando olho para o lado, estava ele de óculos, uma bolsa, roupa social. Eu fiquei um pouco tímido, mas arrisquei dizer admirar o seu trabalho. Ele agradeceu e eu perguntei se ele poderia me conceder uma entrevista, ele disse que sim. Ficamos de marcar esse bate-papo, porém veio o isolamento social e não tive a iniciativa de voltar a contactá-lo. Acabei tendo outras atividades que não me recordei mais de falar com ele. Só lembro que Gilmar me pareceu uma pessoa super humilde e solicita. Não é a toa que diversas pessoas se comoveram com sua partida. Os seus mais de 50 livros, prêmios nos motiva a mergulhar na nossa história cada vez mais.

Ele praticamente deu voz a Patativa do Assaré. Trouxe o material do poeta que tinha tudo na mente de forma oral. Então Gilmar foi lá e conseguiu registrar em livro todo o legado do nosso artista das palavras.

Esse ano tem sido assim. Toda semana uma despedida de alguém querido. Um ser humano que nos faz olhar e simplesmente agradecer por tudo que temos de bom, mesmo as pequenas coisas.

Carlos Emanuel
Enviado por Carlos Emanuel em 19/04/2021
Reeditado em 19/04/2021
Código do texto: T7235510
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