SENTIR NA PELE

Prof. Antônio de Oliveira

Sentir na própria pele. Acho que foi isso que eu senti. Seria o mesmo que sentir na própria carne? Só sei que, para quem não tem alma de poeta, isso é frescura. Mas sei também que, ao ver demolirem uma casa mais antiga, aqui, perto do nosso prédio, coisa banal, de todo dia, fiquei pensando, ou melhor, sentindo a dor daqueles escombros. Sei também que, se as próprias rosas não falam, muito menos tijolos, argamassa, pedras, concreto, piso, telhado, paredes... Dizem que essas, as paredes, têm ouvidos e ouvem. Oue hoje ouviram marteladas, marretadas, “destijolando-as”.Não mais ouvirão conversas, fofocas, discussões, prantos e risos.

É triste presenciar uma demolição, um sepultamento de história. Cada pessoa em sua história de vida. E seu abrigo é seu segmento, seu prolongamento. Demolir, hoje em dia, se de noite, em geral clandestinamente, é questão de horas. Possantes escavadeiras, garras pontiagudas, fúria devastadora. Poeira o vento leva. Lembranças, doces lembranças, muitas se perdem nas asas do tempo. O imaginário, sensível ou não, fica por conta de cada pessoa.

Afinal, o velho cede o espaço ao novo. No lugar daquela casa surgirá um edifício, onde o metro quadrado vale muito dinheiro. Por ali passaram, isso mesmo, passaram famílias. Faz algum tempo que o imóvel estava desocupado. A última utilização teve seu coroamento na idade em que a vida está começando: um Jardim de Infância. Vozerio característico, corre-corre, empurrões de crianças mais estabanadas. Sobretudo na hora do lanche e da recreação. Choros e festas. Cantoria, muita cantoria, brinquedos de roda, vaivém dos balanços...

A vida continua. Ainda ouço essas vozes. Mas que é triste uma demolição que integra nossa vida, nossa história, lá isso é. Certo que não podemos viver de nostalgia. Mas para quem tem sensibilidade, um fio de cabelo vira canção. Canção de sucesso...

Antônio Oliveira MG
Enviado por Antônio Oliveira MG em 18/04/2021
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