FOGO DE CHÃO PARA MATEAR

No dia da vacina encontrei o Ricardo, não o via desde 1972. Ele já estava no posto, quando cheguei, não poderia deixar de vê-lo, um cara grande de mais de 1,80 m. Os anos deram-lhe quilogramas a mais, uns 20 cm na altura e cabelos brancos. Distante uns 5 metros falei alto:

- Psiu, ei você, és o Ricardo lá do infantil?

Então ele respondeu, que sim, masque não lembrava-se de mim. Eu jogava na lateral esquerda, a zaga era o Oscar e tu.

Bah, ele me apontou a alça de mira e mandou ver:

- "Quero que apareças lá em casa, para tomar um mate, se não quiseres pode ser uma água para matar a sede. Tenho um fogo de

chão com uma chaleira fervendo, esperando tu e o Darci, pois quero retribuir a força que vocês me deram!"

Ricardo com 15 anos parecia ter 18, era lentão e gostava de tocar a bola para o lateral e sair na frente para receber. Pelo porte ele ia atropelando e muitas vezes chegava na frente, até concluindo no gol algumas vezes. Lembro de só um gol que ele fez, nesta tática.

A maioria das vezes ele perdia a bola e sobrava para o Darci ou eu, então começamos a dar a bola mais esticada, assim ele já queimava o pique de saída. Algum tempo depois ele percebeu e queixou-se para o treinador, justamente quem o incentivava a dar aqueles piques mal sucedidos. Levamos um puxão de orelhas e ele foi proibido de inventar.

Depois desta conversa nenhum pouco agradável, nos despedimos e ele reiterou que a água fervendo está sempre disponível para matar a nossa sede e se for do nosso agrado ele pode colocar um pouco de sal.

Passado o inusitado do reencontro, penso que ele tenha razão, por isto estou preparando um fogo de chão para que possa matar a sede de alguns, mas não por sacanagens no futebol, mas pela língua comprida, que lixa pelas costas, quando a vítima não está por perto!

Um passe com efeito e um pouco mais de força, queima mais que um tacho com óleo fervendo!

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 17/04/2021
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