De mala e cuia
Adoro voltar ao passado e nele aportar de mala e cuia. Caminhar sobre as lembranças empoeiradas que guardei ao longo do caminho e, delas, abstrair todas as experiências vividas. Isso é, para mim, um prazer inigualável...
Num desses momentos especiais, recordei uma situação angustiante, que nunca esqueci.
Em algum momento já relatei que comecei a trabalhar muito cedo, numa indústria de biscoitos, mais precisamente, no mesmo bairro em que morava. Vale salientar que a permissão dos meus pais só foi possível, depois de terem rezado um verdadeiro sermão. Inclusos – cumprimento de horário, assiduidade, respeito aos mais velhos, obediência total... E assim por diante.
Passados quatro longos anos, essa rotina me fez cansar e procurar outros ares. Assim sendo, sem mesmo comunicar em casa, comecei minhas buscas. Logo após, tomei conhecimento da necessidade de balconista numa loja de presentes, num outro bairro.
Difícil seria convencer os meus pais dessa minha ideia. Não sabia como abordá-los.
Com muito jeitinho, disse ter recebido uma proposta de um emprego melhor, mas que o mesmo ficava num outro bairro. De imediato, antes que falassem algo contra, falei sobre a distância e da necessidade de fazer uso de um transporte, que, até então, para mim, seria novidade, pois ia e voltava a pé para o trabalho.
Os “nãos” tomaram conta da conversa. Todos os empecilhos foram citados; no entanto, fui justificando cada um e acabei convencendo-os.
Os dias seguintes foram de felicidade plena. Tudo concorria para o êxito da minha nova empreitada.
Comecei no novo trabalho com todo o gás possível. Agradecia a Deus, todos os dias, por estar vivendo mais uma experiência, e bem sucedida!
A cada dia, uma novidade em termos de presentes. Os cristais da “Boêmia” eram os meus preferidos – morria de medo de quebrar algum –, mas a prataria também era belíssima... Foi nessa época que descobri o nome apropriado de muitos objetos, como “chávena” – vasilha apropriada para caldos ou consommé, até então desconhecidos dessa pessoa que vos relata esses acontecidos.
Aprendi muito com o senhor Oscar, o nosso gerente. Ele era muito prestativo e educado.
Mas, voltando ao assunto. O meu maior problema era com o transporte. Para ir ao trabalho era uma beleza! Pegava o ônibus no ponto final, vinha sentada e tranquila. A volta, no entanto, era um tormento, pois pegava o transporte no meio do caminho – e na hora do “rush” – o que significava ônibus lotado, sem chance de entrar. As broncas paternas estavam se tornando uma constante.
Um belo dia, ou melhor, noite, desesperada no ponto de ônibus, com a demora do transporte e o horário já avançado, certa de que estava pegando o ônibus “Jardim Aricanduva”, peguei o “Vila Aricanduva”, destinos e roteiros totalmente opostos.
Apressada em passar logo à frente, e me ver livre do desconforto da lotação, nem percebi o caminho diferente que o coletivo trilhava.
Já quase no seu ponto final, dei-me conta do meu engano. Procurei o motorista, que me confirmou o erro. Sem querer comecei a chorar, pois, além de não conhecer o bairro, não tinha um tostão furado para pagar uma nova passagem.
Com pena, depois de ouvir a minha história, o cobrador sugeriu, juntamente com o motorista, que no final da linha, eu entrasse pela porta dianteira para não pagar a passagem.
Assim o fiz. Agradeci aos dois – motorista e cobrador – pela boa ação. Mas tive que descer no meio do caminho e percorrer a pé uma longa distância até a minha casa.
Pelo caminho já ia imaginando o tamanho da bronca que sofreria, pois me atrasei sensivelmente.
No entanto, como Deus é pai e não padrasto, nessa noite “meu pai” também chegou mais tarde em casa e assim contei o ocorrido sem grandes problemas. Apenas um lembrete me foi repassado: deixe de brincadeiras no ponto de ônibus e preste mais atenção no que fizer.
Respirei fundo e tratei logo de ir tomar um bom banho para relaxar. Afinal, não era sempre que o pegava numa veia boa...
Já no aconchego dos cobertores, fiquei me questionando se o fato dele ter chegado também atrasado se devesse a brincadeiras.
Sem esperar por respostas, tratei logo de guardar as bagagens.
O cansaço era mais forte do que as dúvidas e logo adormeci o bom sono dos justos.
Adoro voltar ao passado e nele aportar de mala e cuia. Caminhar sobre as lembranças empoeiradas que guardei ao longo do caminho e, delas, abstrair todas as experiências vividas. Isso é, para mim, um prazer inigualável...
Num desses momentos especiais, recordei uma situação angustiante, que nunca esqueci.
Em algum momento já relatei que comecei a trabalhar muito cedo, numa indústria de biscoitos, mais precisamente, no mesmo bairro em que morava. Vale salientar que a permissão dos meus pais só foi possível, depois de terem rezado um verdadeiro sermão. Inclusos – cumprimento de horário, assiduidade, respeito aos mais velhos, obediência total... E assim por diante.
Passados quatro longos anos, essa rotina me fez cansar e procurar outros ares. Assim sendo, sem mesmo comunicar em casa, comecei minhas buscas. Logo após, tomei conhecimento da necessidade de balconista numa loja de presentes, num outro bairro.
Difícil seria convencer os meus pais dessa minha ideia. Não sabia como abordá-los.
Com muito jeitinho, disse ter recebido uma proposta de um emprego melhor, mas que o mesmo ficava num outro bairro. De imediato, antes que falassem algo contra, falei sobre a distância e da necessidade de fazer uso de um transporte, que, até então, para mim, seria novidade, pois ia e voltava a pé para o trabalho.
Os “nãos” tomaram conta da conversa. Todos os empecilhos foram citados; no entanto, fui justificando cada um e acabei convencendo-os.
Os dias seguintes foram de felicidade plena. Tudo concorria para o êxito da minha nova empreitada.
Comecei no novo trabalho com todo o gás possível. Agradecia a Deus, todos os dias, por estar vivendo mais uma experiência, e bem sucedida!
A cada dia, uma novidade em termos de presentes. Os cristais da “Boêmia” eram os meus preferidos – morria de medo de quebrar algum –, mas a prataria também era belíssima... Foi nessa época que descobri o nome apropriado de muitos objetos, como “chávena” – vasilha apropriada para caldos ou consommé, até então desconhecidos dessa pessoa que vos relata esses acontecidos.
Aprendi muito com o senhor Oscar, o nosso gerente. Ele era muito prestativo e educado.
Mas, voltando ao assunto. O meu maior problema era com o transporte. Para ir ao trabalho era uma beleza! Pegava o ônibus no ponto final, vinha sentada e tranquila. A volta, no entanto, era um tormento, pois pegava o transporte no meio do caminho – e na hora do “rush” – o que significava ônibus lotado, sem chance de entrar. As broncas paternas estavam se tornando uma constante.
Um belo dia, ou melhor, noite, desesperada no ponto de ônibus, com a demora do transporte e o horário já avançado, certa de que estava pegando o ônibus “Jardim Aricanduva”, peguei o “Vila Aricanduva”, destinos e roteiros totalmente opostos.
Apressada em passar logo à frente, e me ver livre do desconforto da lotação, nem percebi o caminho diferente que o coletivo trilhava.
Já quase no seu ponto final, dei-me conta do meu engano. Procurei o motorista, que me confirmou o erro. Sem querer comecei a chorar, pois, além de não conhecer o bairro, não tinha um tostão furado para pagar uma nova passagem.
Com pena, depois de ouvir a minha história, o cobrador sugeriu, juntamente com o motorista, que no final da linha, eu entrasse pela porta dianteira para não pagar a passagem.
Assim o fiz. Agradeci aos dois – motorista e cobrador – pela boa ação. Mas tive que descer no meio do caminho e percorrer a pé uma longa distância até a minha casa.
Pelo caminho já ia imaginando o tamanho da bronca que sofreria, pois me atrasei sensivelmente.
No entanto, como Deus é pai e não padrasto, nessa noite “meu pai” também chegou mais tarde em casa e assim contei o ocorrido sem grandes problemas. Apenas um lembrete me foi repassado: deixe de brincadeiras no ponto de ônibus e preste mais atenção no que fizer.
Respirei fundo e tratei logo de ir tomar um bom banho para relaxar. Afinal, não era sempre que o pegava numa veia boa...
Já no aconchego dos cobertores, fiquei me questionando se o fato dele ter chegado também atrasado se devesse a brincadeiras.
Sem esperar por respostas, tratei logo de guardar as bagagens.
O cansaço era mais forte do que as dúvidas e logo adormeci o bom sono dos justos.