Relutâncias, teimosias e outros tropeços da vida

Tenho um histórico de preconceito por alguns best sellers e filmes inspirados em livros que arrebataram milhões de fãs ao redor do mundo. As vítimas já passaram pela trilogia de “O Senhor dos Anéis”, até as adaptações cinematográficas de romances de Nicholas Sparks; pelo livro de autoajuda “O Segredo” (Rhonda Byrne), até o filme romântico “A Culpa é das Estrelas” (John Green).

Sabe aquela mania adolescente de querer a todo custo se diferenciar dos outros? Nos anos 2000, significava (para um certo grupo no qual me incluí) não curtir, ou pelo menos desconfiar, do que a maioria das pessoas gostava na música, no cinema, nos livros. Se você era adolescente nessa época também, e não conheceu ninguém assim, talvez até pense que poderia ser só teimosia minha mesmo. Concordo que não seria muito impreciso me qualificar como uma pessoa teimosa... Porém, demarcar uma identidade própria parecia tão importante e verdadeiramente possível através de uma escolha musical aqui, outra recusa cinematográfica ali.

Sorte que, com os livros de Harry Potter, não me deixei levar pela aversão a grandes sucessos - veja bem, o preconceito era seletivo, afinal! Quando meu interesse por HP teve início, os dois primeiros livros de J. K. Rowling já haviam sido lançados no Brasil. Fui à livraria Mundial com o pai e a mãe para escolher meu presente de Natal, provavelmente em 2000, ano em que ambos os livros ganharam versão brasileira. Após ler a sinopse dos dois títulos, achei a história de “A Câmara Secreta” muito mais interessante do que a trama de “A Pedra Filosofal”.

E foi assim que comecei a ler a saga Potter pelo seu segundo livro.

Jamais li “A Pedra Filosofal”. Fiquei sabendo do “engano” quando o primeiro filme foi lançado, e, obviamente, ele não era “Harry Potter e a Câmara Secreta”... Muitas lacunas dessa história foram preenchidas naquela tarde de dezembro de 2001, no Cine Capitólio.

O fato de existir uma certa rixa entre os fãs de “O Senhor dos Anéis” e de “Harry Potter” também explica minha relutância em ver qualquer um dos longas da obra de J. R. R. Tolkien. Até hoje, não posso dizer se o enredo é bom, ruim, melhor ou pior do que HP. Até hoje, me pergunto se não perdi horas de diversão ao abdicar do fantasioso mundo de hobbits e elfos. E assim pode ter acontecido com tantos outros filmes, séries e livros aos quais não dei uma oportunidade, ou simplesmente ignorei e nem busquei conhecer mais, em muitas das vezes quase exclusivamente para não seguir a manada.

No mês passado, finalmente assisti a um filme baseado num livro de Nicholas Sparks, chamado “Um Porto Seguro”. Foi uma chance merecida, tanto que me instigou a pesquisar mais adaptações do autor para o cinema. Tamanho foi meu espanto ao descobrir que já tinha visto mais outros três filmes de Sparks (no mínimo!), sem saber que eram dele.

Já havia mesmo passado da hora de deixar pra trás alguns resquícios de preconceitos, que, devo admitir, perduraram por um pouco mais de tempo além da adolescência.

Hoje em dia, se me deparo resistindo, por descuido, a algum filme, série ou livro por simples teimosia ou antipatia gratuita, penso que há uma grande probabilidade de viver boas surpresas contrariando a mim mesma. Porque, no fim das contas, é tão legal assistir a um desses filmes que desprezaria antigamente, e me descobrir completamente errada sobre velhas - e nada originais - impressões.

A autenticidade está em selecionar aquilo que se aprecia, seja de grandes autores, seja de novos escritores, sejam sucessos do cinema, sejam filmes independentes. É tempo de buscar tudo o que nos agrada e traz momentos de felicidade.