"PENSO LOGO EXISTO". CORRUPTELAS. LÍNGUA ; VEÍCULO.

Essa exortação tão discutida vem se aproximando das corruptelas visíveis, além de deformarem o veículo chamado língua. Não é dizer que se situam em fala de "internautiquês" ou assemelhados. E todos têm direito de praticarem a língua que quiserem, sem ser a oficial. Falta aparelhamento compreensível, mesmo nos que teriam, condicional, e não têm, formação, mesmo universitária; nenhuma na linguística. Posição de vontade.

Assim em lugar de c, grafa-se s ou ss, em lugar de z indevidamente s, e solecismos à vontade. É visto inclusive uso do vocábulo demais, advérbio de intensidade, grafado separadamente, como "de" e "mais", artigo e locução adverbial. A tentativa de lusofonia que teve o gramático Bechara da ABL, reforma que inclusive abordei em extenso artigo entre os mais lidos, passa longe desses acontecimentos. Como diz Evanildo Bechara, o cultor da língua, "não adianta procurar saber agora o que já não se sabia". Há que se estudar desde o início.

Por quê a referência? A descontextualização em meio às corruptelas virou moda. Se na língua se pode tudo, vamos invadir também o conteúdo do que ficou na memória e aborta-se do original, sem proveito, óbvio. O penso vira não penso, e logo não existe, embora marcado pela historiografia enfrentada. Para isso necessita-se fidelidade com o estudo e ausência de mitomania. Isso vem ocorrendo e fica visível na antena. Mas a antena registra...

O “Penso logo existo” cartesiano desfilou pela cultura do mundo de forma marcante e marcando. Entre os clássicos obteve de Nietsche a pecha de infantilidade. Seria uma superstição popularesca, fruto de épocas imemoriais, ou seja, o sujeito e o “eu” provocando contradições. Seria isto brincadeira da infância para Nietzsche. Segundo o pessimismo do filósofo, impossível se afigura extrair da conscientização do “ser” algum “eu”. Resulta em intelectualismo metafísico de um “saber” superficial e imaturo.

Esqueceu-se de dizer o filósofo pessimista que Descartes mostrou a unidade de consciência, de conhecimento de caráter puro, sem sofismas.

Estamos diante do esteio básico da racionalidade. “Se penso existo”, abraça a dúvida radical, hiperbólica. Construiu sobre o império da dúvida uma certeza.

Duvido de minhas sensações, de minhas emoções frente ao mundo, logo que muito me enganam, e duvido da realidade que se apresenta, até das ditas exatas, matemáticas, duvido de tudo que se põe a minha frente com certeza lógica. Mas concluiu taxativo:

MAS NÃO DUVIDO QUE ESTOU DUVIDANDO.

Temos assim, o “penso logo existo”, axioma cartesiano, alicerce do saber moderno lançado em 1637 pelo dualismo de Descartes; alma,repositório de intelectualidade, razão, consciência e mente; corpo, conteúdo de matéria.

Como contestar a evidência? Se estou duvidando tenho a certeza da dúvida, não há infantilidade nesse estado mental, mas racionalidade e consciência. Nietzsche sempre extrapolou, desde a sua crença exclusiva no homem dotado, no seu “super-homem”, exclusiva razão para cuidados e investimentos, até a contrariedade do sistema logístico, cartesiano, como expendido por Descartes, que morreu em paz embora agnóstico.

O “penso logo existo” cartesiano não faz prosélitos em nossos dias, nulidades muitas são declinadas, veículos de comunicação, todos, desinformam, desestimulam o estudo, fazem prosperar as nulidades, incentivam o descrédito ao estudo, encorajam manifestação de tolices, envolvem a mitomania que busca aparecer, afrontam até mesmo o “penso logo existo”, pois nem mesmo a dúvida aparece nesses magistérios do absurdo, desdizendo o óbvio e maltratando a primariedade, que seja.

Esperamos que o “existo” cartesiano, faça as pessoas pensarem, mesmo que estabeleça a dúvida que edifica e constrói, mesmo assaltando consciências.

É BOM PENSAR, MEDITAR, EXISTIR PARA ESSE FIM..............

E bom saber que não há como suprimir historicamente fatos registrados pelo que se pensa e marca-se, com solecismos ou não.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 14/04/2021
Reeditado em 14/04/2021
Código do texto: T7231824
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