DANI

O medo de voltar ao trabalho era grande. Então resolvi que, se não conseguisse ficar, tiraria nova licença. Saí de casa mais tarde do que o horário oficial, dirigi lentamente, como quem não queria mesmo chegar. O pensamento atrapalhado pelas emoções que me abalaram todas as estruturas nos últimos dias. Cheguei. Estacionei. Fui caminhando devagar e lá estava uma amiga que me esperava para um abraço.

Abraço em tempos de pandemia só mesmo para momentos assim - de muita dor ou de muita alegria. Chorei, solucei, lamentei... ela ficou comigo. Me fez sentar, trouxe água e disse pra não ter pressa. Não tivemos. Consegui entrar após sua oferta generosa - "se precisar, me chame, estarei na sala ao lado." O peito dói ainda mas retomar a caminhada está sendo possível.

Jaakko Seikkula, um terapeuta finlandês, disse o seguinte: "Todas as nossas experiências deixam um sinal em nosso corpo, mas apenas uma pequena parte delas é formulada em palavras. Quando isso acontece, elas se tornam as vozes de nossas vidas."

Dani, a experiência do seu abraço deixou um sinal em meu corpo e eu a coloco em palavras para que as vozes de nossas vidas sejam propagadas em forma de carinho, amizade, empatia, solidariedade.