Ilhas esquisitas

Segundo os geógrafos, ilha é uma porção de terra cercada de água por todos os lados. Quem nunca estudou isso na vida não passou por bancos escolares; ou não prestou atenção, mas aí são outros quinhentos. Existem diferentes tipos de ilhas: oceânicas, fluviais, vulcânicas, continentais e até as artificiais. No Brasil se destacam: a ilha de Marajó, a ilha do Bananal — a maior ilha fluvial do mundo —, a ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro, a ilha Comprida, no litoral de São Paulo, e os arquipélagos de Fernando de Noronha, de Abrolhos, entre outros. Ah, arquipélago, pra quem não sabe, é um conjunto de ilhas. Minas Gerais, que não tem mar, tem várias ilhas naturais e artificiais em seus grandes rios e lagos. Existem ilhas em lagos e ilhas dentro de outras ilhas, a diversidade é grande.

Mas o que interessa aqui é um tipo de ilha que não está nos atlas geográficos, ilha num sentido social e antropológico. São “ilhas” entre aspas, formadas por agrupamentos sociais e políticos distintos. Algumas são raras, esquisitas e intrigantes, outras são sinistras, vivem envolvidas em infortúnios, em fatalidades e traumas sociais.

Essas ilhas podem surgir de forma espontânea, imperceptível, ou podem aparecer pretenciosas e, não raro, patéticas. Existem “ilhas” de cuja existência nem sabemos. Certos bairros podem ser considerados ilhas. O que se vê lá dentro, às vezes, parece realidade paralela, outro país, outro mundo. Enquanto muitos lugares são exemplos de civilidade, de respeito ao próximo e de cuidado com o meio ambiente, outros passam longe.

Certas “ilhas” se formam e, quando a gente vê, está dentro delas. Não há travessia explícita, mas elas estão aí e você faz parte. Por exemplo, “ilhas” formadas por corporações profissionais, por membros de determinadas classes sociais, agremiações religiosas, artísticas ou políticas. Se você faz parte de uma dessas, talvez você nem tenha se dado conta, mas usufrui dos benefícios ou arca com os ônus, alguns bem pesados. O contrário também é verdadeiro: se você não faz parte, pode sofrer exclusão, silêncio e discriminação.

Tem gente que se orgulha de sua “ilha” exclusiva, à qual só tem acesso quem presta reverências ou paga para entrar. Mas esse negócio de “ilha” é complicado, você nem se importa com o assunto e já é obrigado a dar palpite, a seguir certos ritos, a comportar-se conforme determinam os chefes e a vestir-se conforme o figurino da “ilha”.

Ando intrigado com algumas “ilhas” que surgiram recentemente, como as das redes sociais. Alguns de seus “habitantes” devem viver em outro planeta, têm regras de conduta, raciocínio, língua e códigos próprios. Acreditam em cada coisa que nem tenho coragem de contar. São “ilhas” habitadas por moradores que desconhecem outras realidades, são alienados, obtusos, e nem sabem que são. Já ouvi comentários deles ignorando a ciência e a cidadania. Prefiro outras paisagens. E você?