NOS TEMPOS DE ANTIGAMENTE
As chamas dos lampiões lambiam em sombras as paredes, numa dança performática, meio fantasmagórica.
O perfume de querosene misturava-se ao odor da lenha em brasas do fogão.
O sol mal tinha ido dormir e a família reunia-se ao redor da grande mesa de madeira bruta, onde o pão repousava ao lado do grande bule de café.
Sobre o fogão de tijolos vermelhos como brasa, pendurados em um cipó, algumas rodelas de linguiças e salames abençoados pela fumaça.
Lá fora um céu cravejado de estrelas, mais parecia uma vitrine cheia de diamantes a reluzir.
A lua iluminava a estrada no meio da mata desenhando contornos cheios de curvas sinuosas.
A criação sumia nas estrebarias no aguardo dos primeiros raios de sol do dia que viria.
A vida era outra. O mundo também. Sem televisão, sem internet, sem celular.
Restava o rádio como o companheiro de todas as horas.
Ao invés do “JN”, o Repórter Esso, os programas de auditório do Ari Barroso e um, muito ouvido, cuja memória me trai e não lembro o nome, que era patrocinado pela “Antisardina, o segredo da Beleza feminina” anunciado por uma bela voz que dizia “onde os ponteiros se encontram” em uma referência ao horário do meio dia.
Os parentes do interior eram constantemente visitados. Com os primos andávamos pelos carreiros catando pinhões para sapecar com os galhos secos dos pinheiros, tão abundantes, ou sobre a chapa do fogão de lenha. Falando dele, do velho fogão, sempre havia batatas doces em uma panela e água quente para o café quando uma visita chegasse de repente, pois não “carecia” avisar.
À noite os vaga lumes piscavam enfeitando a mata com riscos verdes “neon” mandando mensagens em código binário. A lua brilhava mais e Vênus mais resplandecia.
A viola chorava candente velhas histórias de amor na voz do caboclo enamorado.
Tudo ficou no passado. A vida tornou-se agitada. A ternura e a simplicidade perderam-se.
Restaram lembranças escondidas, chorosas, doídas, mas gostosas de sentir.