A vida que a gente quer

O mundo caótico, o vírus circulando, pessoas indo para sempre... Maria olhou no jornal pela décima vez, só notícias ruins, ela desejou ardorosa estar em outra vida, qualquer coisa menos a vida que vivia, ela era aquela jovem que tinha tudo para viver mil emoções, frequentar círculos de amizades, era assim que seus 20 e poucos anos se imaginaria vivendo, mas enclausurada numa vida rotineira, sem festas, sem shoppings, sem viagens, a vida era vazia...

Lá no outro extremo da cidade vivia Gardênia, muitas roupas, calçados, viagens, fotos, tudo na memória, ouvia as notícias e sofria também... a vida agora sim parecia sem sentido. As duas gostariam de uma nova realidade para fugir, ambas não estavam felizes, sentiam que outras pessoas eram mais felizes e que tudo era muito injusto, tanto que Gardênia sequer via o jardim da sua bela casa morrendo, não notava seu irmão caçula em depressão...

Maria não via a mãe que a amava tanto a ponto de dar-lhe os últimos trocados que tinha para que ela fosse a última festa que teve antes da Pandemia, essa mãe, Maria não via ... ela via as outras vidas, quanta injustiça ela viver assim pensava sempre... Um determinado dia aconteceu um acidente, Gardênia bateu seu carro em um poste.... Ela sobreviveu porém muito ferida precisou passar por algumas cirurgias e temporariamente estava sem o movimento do lado direito, ela precisou ficar internada.

Maria não conhecia Gardênia, mas as duas por obra dos caminhos da vida que sempre nos surpreende se encontraram no hospital, Maria teve Covid, se recuperou por milagre mas como ficou muito tempo hospitalizada precisava de fisioterapia e assim Maria e Gardenia se encontraram... As duas sem contato com a família, as duas percebendo que quase perderam sua própria história, se olharam nos olhos quando Gardênia sem o movimento do lado direito disse ao médico que não queria aquela vida, preferia ter a sorte dos seus amigos, todos bem e sem nenhum acidente no currículo...

Maria viu que a moça tinha tudo para ser feliz naquele momento, ela era o que Maria almejava ser desde sempre, era bonita, vestia bem, devia ter viajado muito, "ah! Uma bem aventurada" mas, lá estava ela dizendo que não queria aquela história... Maria também reclamaria junto, mas houve em sua mente a lembrança, ela tinha ficado sem ar, tinha sido entubada, não morrera, aquela ali, a nova Maria ainda estava viva e podia caminhar com um pouco de esforço, lembrou da mãe, lembrou da vida e percebeu, cada um tem sua história, pela primeira vez ela se despiu do desejo fútil de viver histórias alheias e sorriu puxando o ar sem dificuldade, olhando para Gardênia disse com lágrimas nos olhos: "você ainda está viva" a moça olhou para Maria e viu uma menina simples sorrindo para ela, devolveu o sorriso e ao caminhar ainda apoiada percebeu também que tinha uma linda historia e tinha seu irmão, tinha seus pais, nunca tinha faltado nada para ela ser feliz, porque a felicidade é essência, é a percepção de que temos vida, ar para respirar e sonhos para seguir e é isso que importa, cada um escreve sua própria história e ela não precisa das Letras de outras vidas, precisa da sua letra, precisa do seu cuidado, valorize o que tens e não percas a Fé para prosseguir! A vida não tem que seguir nossos planos para sermos felizes, cada passo e surpresa que nos traz, nos ensina a continuar lutando;

.Fim

Rita Flor
Enviado por Rita Flor em 13/04/2021
Código do texto: T7231109
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