Novembro em Flor.
Quarta-feira. O despertador do celular tira-me de um sonho bom.Infelizmente não pude interpretá-lo como gosto, pois tive que correr para o dia que começava exigindo mais do que a minha natureza aérea pode oferecer. O mecânico viria pegar o carro.Ligaram-me do trabalho, pois necessitavam de informações sobre um processo. Um banho e o café da manhã correndo. Seu Paulo, o motorista de táxi de minha confiança estava ocupado. Troco de roupa lembrando que não dispunha de dinheiro em espécie para pagar o táxi. Teria que passar em um caixa eletrõnico no caminho. Gente, isso é demais para mim.Não fui moldada para encarar questões práticas em horário matutino. Sou sonhadora de carteirinha e fico nervosa quando tenho que resolver essas trivialidades que qualquer pessoa faz de olhos fechados. O celular toca mais uma vez. O motorista, agora disponível , encontra-se em baixo no edifício.Digo que já vou, enquanto desço para procurar a agenda no meu carro que ainda está na garagem. O carro sim; a agenda não. Enfim, não tenho mais tempo para procurar e entro no carro branco que me aguardava."Bom dia, Dona Evelyne, vamos fazer um percurso diferente hoje?". Indagou seu Paulo e não contestei, afinal estava sem saco para discutir e tenho plena confiança nele. Na esquina ele me aponta as dunas que contornam a cidade e o meu olhar é surpreendido pelo buquê de cor lilás entre o verde já conhecido daquela paisagem. Vejo os ipês roxos florindo os morros e embriagando os desavisados Vou ficando cada vez mais encantada ao percorrer a longa avenida, hoje curta para o meu prazer.Em frente ao Aero Clube, o triunfo da natureza uniu várias árvores tornando o espetáculo ainda mais vivo. Ali minha memória foi remetida a outro novembro tão sensorial quanto os ipês em flor. Despertei. Graças à sensibilidade de seu Paulo, intuí que o céu estava enviando-me mensagens às quais a ansiedade ainda não me permite a leitura, porém estou certa do seu sentido especial, e se ainda não os alcancei, já me sinto grata diante do presente da natureza e de mais um novembro.
Evelyne Furtado, 29 de novembro de 2006.