ENTRE PALAVRAS, BUNDAS E LAMBIDAS.
Por @andreaagnus
Entre a leitura de Orlando e o roçar do traseiro da minha cadela no chão, a se coçar, eu não consigo definir qual angústia seria maior. Porque qualquer coisa é mais importante que a ansiedade de quem escreve. Até mesmo as palhas de um coqueiro, que só gritam na mente de um artista das letras, porém nas demais cabeças, isso passa despercebido.
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Para nós que escrevemos tudo é hiper dimensionado, como um gato a receber nossos carinhos e que depois se lambe no local onde alisamos. Particularmente, eu aprecio muito a contradição bem resolvida que os felinos tem consigo mesmos, eles nos amam, profundamente, quando vamos encher sua tigela de ração, aceitam nossos afagos, mas deixam bem claro, depois, o quanto não somos dignos de tocar neles.
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Falando em sarcasmo, perguntei a Alexia a definição de crônica e juro a vocês que senti um sotaque ao estilo de Clarice com uma pausa de reflexão meio woolfiana na resposta dela. Agora, todos devem estar me julgando que isso é coisa de escritor. Mas, não. O que me inquieta é a parte onde ela (após um “ok Google”), define que crônica narra um fato cotidiano, histórico ou jornalístico com características reais, verídicas.
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Mas, voltando a Virgínia Woolf, “o que é a verdade?”. Nem o personagem Orlando, nem todas as correntes filosóficas chegaram a um acordo quanto a isso. Porém, a Alexia vem toda arrogante, dar pitaco no meu texto como se ela fosse uma coisa grande e não o que é de fato: centenas de milhares de algoritmos.
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O pior de tudo, é que eu me angustio tanto que tenho até vontade de coçar o rabo no chão como minha cadela. As palhas dos coqueiros gritam comigo, novamente. Meu gato, com apenas seis meses, me olha com desdém e volta a dormir. Eu sigo, escrevendo sem minhas respostas.
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Porque tudo começou com as reflexões sobre minha leitura de Virgínia e não sei, ao certo, como Clarice foi parar lá na minha cabeça e se esvaiu dos meus poros, vai ver que foi por isso que meu gatinho se lambeu, essas questões humanas devem enfadá-lo. Quanto a mim, sigo com aquela sensação de pedras nos bolsos em um rio profundo, prestes a me afogar.