EU NÃO TENHO AINDA UMA CRÔNICA DE OUTONO
Dias desses de um tempo bem passado eu me aventurei no mundo das crônicas. Pensei em escrever sobre a minha cidade, sobre os meus sonhos, meus amores e desamores. Mas nenhum destes temas me rendia uma boa narrativa.
Então dividi a minha intenção pelas quatro estações, crônicas de primavera, de verão, de outono e de inverno. Seria legal. Quatro obras ou uma obra dividida em quatro partes? Uma crônica por semana? Sei lá se isto funcionaria. Nada funciona comigo, nada mesmo.
Entrou estação e saiu estação e eu não cumpri nenhuma vez a minha meta que era simples, uma crônica por semana. Só isso, uma cronicazinha em sete dias. Saiu umas assim, meio chochas, meio engraçadas. Mas aquela crônica de esbugalhar os olhos, de levar o leitor a dizer, eu não escreveria isto ou nunca pensei nisto, não saiu.
Chegou outono no mês passado, fiz proposta de me deslanchar no projeto. Mas toda vez que eu ia escrever uma folha caía e eu não pegava do chão. Sabe, a coluna anda meio dura. E o meu fruto literário apodrecia, decompunha-se dentro do cérebro. E lá se ia eu me vendo com mais uma crônica perdida. Neste outono ainda nada. Aqui no interior do interior de Minas Gerais tem dia que chove, tem dia que faz sol. Eu me gripo e eu me desgripo com essa mudança de temperatura neste segundo outono de pandemia. Crônica, nenhuma.
Quando olho pela janela me vejo diante de um muro alto, parece muro de uma penitenciária. Estou preso aqui diante dos livros. Olho para o Drácula, para o Frankenstein, para Lovecraft, Poe e sinto um vazio aterrorizante. Nem O turno da noite de André Vianco me salva. O outono caminha e hoje já é dez de abril, pensaram em golpe, pensaram em CPI, pensaram em fechar mais comércio, pensaram em abrir mais qualquer coisa que não aglomere. E as igrejas? Mas isto não tem nada a ver com o outono. Eu quero uma crônica que fala das folhas caindo, do fruto apodrecendo. Uma crônica sobre o outono outono. Não de outono da alma, do sentimento. Eu quero outono da natureza.
Não chove mais no dia de São José como chovia antes, enchente das goiabas. Das goiabas que já caíram perto do ribeirão que transbordaria com a chuva e levaria embora os frutos. Também as folhas. Mas nem isso eu tenho mais para falar. Só da seca, da seca de Água de Romanza, o curta.
Mas vou parar de reclamar. Talvez assim a crônica venha. Talvez assim o meu outono aconteça, desabroche. Opa, esse negócio de desabrochar tem mais a ver com primavera. Com flores. A pegada agora é folha pelo chão. Folha vegetal, do limoeiro, da goiabeira. Não minhas folhas de rascunho. A prova que elaborei, imprimi e que o aluno não fez.
Preciso sentir o outono. Ver ele diante dos meus olhos. Eu preciso ir lá fora, o terraço será meu posto de observação. De lá devo ver os frutos caírem, as folhas voando antes de encontrar as bactérias famintas da umidade do solo. Preciso disto. Estou indo.
Quanto eu retornar talvez eu terei uma crônica de outono.
Dias desses de um tempo bem passado eu me aventurei no mundo das crônicas. Pensei em escrever sobre a minha cidade, sobre os meus sonhos, meus amores e desamores. Mas nenhum destes temas me rendia uma boa narrativa.
Então dividi a minha intenção pelas quatro estações, crônicas de primavera, de verão, de outono e de inverno. Seria legal. Quatro obras ou uma obra dividida em quatro partes? Uma crônica por semana? Sei lá se isto funcionaria. Nada funciona comigo, nada mesmo.
Entrou estação e saiu estação e eu não cumpri nenhuma vez a minha meta que era simples, uma crônica por semana. Só isso, uma cronicazinha em sete dias. Saiu umas assim, meio chochas, meio engraçadas. Mas aquela crônica de esbugalhar os olhos, de levar o leitor a dizer, eu não escreveria isto ou nunca pensei nisto, não saiu.
Chegou outono no mês passado, fiz proposta de me deslanchar no projeto. Mas toda vez que eu ia escrever uma folha caía e eu não pegava do chão. Sabe, a coluna anda meio dura. E o meu fruto literário apodrecia, decompunha-se dentro do cérebro. E lá se ia eu me vendo com mais uma crônica perdida. Neste outono ainda nada. Aqui no interior do interior de Minas Gerais tem dia que chove, tem dia que faz sol. Eu me gripo e eu me desgripo com essa mudança de temperatura neste segundo outono de pandemia. Crônica, nenhuma.
Quando olho pela janela me vejo diante de um muro alto, parece muro de uma penitenciária. Estou preso aqui diante dos livros. Olho para o Drácula, para o Frankenstein, para Lovecraft, Poe e sinto um vazio aterrorizante. Nem O turno da noite de André Vianco me salva. O outono caminha e hoje já é dez de abril, pensaram em golpe, pensaram em CPI, pensaram em fechar mais comércio, pensaram em abrir mais qualquer coisa que não aglomere. E as igrejas? Mas isto não tem nada a ver com o outono. Eu quero uma crônica que fala das folhas caindo, do fruto apodrecendo. Uma crônica sobre o outono outono. Não de outono da alma, do sentimento. Eu quero outono da natureza.
Não chove mais no dia de São José como chovia antes, enchente das goiabas. Das goiabas que já caíram perto do ribeirão que transbordaria com a chuva e levaria embora os frutos. Também as folhas. Mas nem isso eu tenho mais para falar. Só da seca, da seca de Água de Romanza, o curta.
Mas vou parar de reclamar. Talvez assim a crônica venha. Talvez assim o meu outono aconteça, desabroche. Opa, esse negócio de desabrochar tem mais a ver com primavera. Com flores. A pegada agora é folha pelo chão. Folha vegetal, do limoeiro, da goiabeira. Não minhas folhas de rascunho. A prova que elaborei, imprimi e que o aluno não fez.
Preciso sentir o outono. Ver ele diante dos meus olhos. Eu preciso ir lá fora, o terraço será meu posto de observação. De lá devo ver os frutos caírem, as folhas voando antes de encontrar as bactérias famintas da umidade do solo. Preciso disto. Estou indo.
Quanto eu retornar talvez eu terei uma crônica de outono.