Araraquara e Bauru
Abdias de Araraquara e Bartolomeu Bauru foram ao médico. Queixas semelhantes, sintomas parecidos, o mesmo diagnóstico. O médico recomentou a ambos perder peso.
Quem já lutou contra a balança sabe que não é tarefa fácil. É preciso vontade, disciplina e apoio. Os efeitos positivos podem levar um tempo para aparecer. A tentação de ceder e continuar com a vida de antes é grande. Mas não se obtém resultados diferentes fazendo a mesma coisa. No pain, no gain, como dizem por aí.
Abdias resolveu levar a coisa a sério. Consultou uma nutricionista e um personal training. Não teve dúvidas: se quisesse parar o processo, teria que fechar. O estômago reclamou, é claro. Mas, sem fechar a boca, não diminuiria a curva do gráfico.
Bartolomeu ignorou as recomendações do doutor. Quando se sentia ansioso, a comida ajudava a acalmá-lo. Ficaria doido fazendo um regime. “E minha saúde mental?”, pensava.
Abdias ficou firme. Fechou a boca para os excessos, os olhos para as tentações. Passou a comer o essencial. Baixou um toque de recolher para massas e doces; nada de carboidratos à noite. Sentiu a pressão, é fato. Amigos chamando para tomar uma no boteco, o restaurante da esquina oferecendo um desconto nas pizzas. Não era fácil, mas necessário.
Bartolomeu tentou um chá milagroso, dica de uma vizinha. Foi inútil. Só serviu para lhe revirar as entranhas. Passado o efeito, assim que se sentiu melhor, devorou um x-bacon com fritas, acompanhado de uma Coca-Cola litro.
Apesar da descrença de alguns, Abdias colheu bons frutos depois de seis meses, quando voltou ao médico. Os exames mostravam bons indicadores. Recebeu elogios e palavras de incentivo. Com apoio da nutricionista, começou a ensaiar um retorno à normalidade.
Não como antes, mas uma vida em que buscasse o equilíbrio entre os prazeres da mesa e a saúde. Um novo normal, como ele dizia.
Mesmo não sendo um caso de sorte, mas de esforço, pode-se dizer que não teve a mesma sorte o pobre Bartolomeu. Não quis retornar ao médico nem fazer novos exames, mas já não precisará fazê-los; seu coração entrou em colapso.
Desde então, permanece de boca fechada.