Mosaico
Ontem eu deitei a cabeça no travesseiro e me ocorreu que a vida parecia (ou parece?) um grande emaranhado de caminhos, pessoas, prazeres, escolhas, deveres, e sentimentos.
Sentimentos conflitantes frequentemente se encontram de mãos dadas e às vezes apertam meu coração tão fortemente que suspeito que fazem aquilo de propósito pra sufocar.
Em outras vezes, porém, sentimentos me abraçam carinhosamente, como quando vejo um bebê sorrir ou sinto um feixe de luz solar escapar por entre as nuvens e me esquentar a pele em um dia frio.
Em alguns dias os ombros me pesam como que se carregassem correntes e em outros me sinto tão livre e leve que se eu fechar os olhos por uns instantes posso jurar que eu sou feita do mesmo que o vento e o mar e a terra e o céu.
Às vezes olho ao redor e sinto estar exatamente onde deveria, mas em outros momentos sinto não pertencer a lugar nenhum.
Às vezes acontece de tudo parecer fazer todo sentido, mas então, no momento seguinte, não entendo mais nada.
As certezas que me ensinaram já pareceram tão sólidas quanto o chão ou os blocos de gelo dos polos terrestres. Mas aconteceu que eu descobri coisas como terremotos e aquecimento global, e isso me fez duvidar de tudo. E a dúvida às vezes pode ser uma coisa boa, porque senão ficaríamos presos às velhas certezas que já não servem mais. Mas quem sabe o que serve e o que não serve mais? Taí uma dúvida que tenho.
Ao mesmo tempo que falo isso, penso que é bom que se acredite em algo, que se tenha algo pra se agarrar quando o mundo ao redor parecer de gelatina ou então quando acontecer como ontem à noite. Pra não deixar a gente perdido entre o emaranhado de dúvidas, de sentimentos, de pessoas e de pensamentos.
Não sei.
São tempos confusos.
Errei.
Não é o tempo que tá confuso.
Eu estou confusa.
Ou estava confusa ontem à noite.
Tudo parece mais intenso mais confuso mais complexo mais bagunçado quando tá de noite.
Talvez a vida não precise ser tudo aquilo que eu disse no começo do texto. Talvez ela seja bem simples e eu que complique. Ou talvez ela seja sim tudo aquilo, e, se eu olhar bem, esse conjunto de contrários na verdade se combine em uma coisa simples e harmônica, e pra ver isso seria preciso só olhar de um outro ângulo. Tipo aquelas imagens feitas com várias imagenzinhas diferentes e que quando a gente vai se afastando elas formam uma imagenzona bonita.
No fim esse texto não diz nada.
Ou talvez diga alguma coisa mas essa coisa ficou entre o emaranhado de palavras.
Ou talvez ela seja como uma dessas imagenzonas.
Cabe a você decidir.
Eu sei que eu detestava aqueles textos em que a gente lia, lia, e no final não tinha conclusão alguma. Hoje em dia eu gosto deles. Me deixam livre pra concluir o que eu quiser. Ou não concluir nada, o que já é algum tipo de conclusão. Concluir que aquele assunto é inconcluível ( será que essa palavra existe?). Até que eu volte outra hora e ache a conclusão. Viu? Já tá ficando confuso de novo. É isso. Ou não.
Enfim.
(pesquisei e o nome das imagenzonas formadas de imagenzinhas é mosaico).