Formiguinha

Uma formiguinha apareceu de repente no papel em branco sobre a minha mesa.

Eu pego a caneta e, não escrevo, resolvo desenhar um circulo ao redor da formiguinha, ela para, investiga a tinta, com as suas antenas, anda devagar procurando um lugar sem tinta para passar, quando não encontra, demora um pouco, parecendo tomar uma decisão, e então sai do circulo, passando sobre a tinta. Faço outro circulo, carregando mais na tinta, a formiguinha para novamente e repete o processo, anda ao longo da linha do circulo procurando uma saída, quando não encontra, sai do círculo, passando novamente sobre a tinta, só que desta vez, bem mais rápido. Faço um círculo maior, ela segue seu caminho dentro do circulo e quando chega no limite, ela não para, e passa direto.

Eu desisto da brincadeira, mesmo tendo o poder de decidir sobre a vida ou a morte da formiguinha, eu não consegui subjulgá-la dentro de um círculo de tinta azul. Ela, simplesmente, ignora a minha existência e o risco que corre na minha mesa, ela segue o seu caminho sem se fixar nos meus círculos e nos obstáculos que vão surgindo no seu caminho, ela parece saber que depois deles virão outros, e outros, e outros, e ela terá que superá-los um a um para continuar seguindo em frente de antenas erguidas e passos ligeiros, a despeito de mim ou de qualquer coisa no universo infinito ela segue sendo a verdadeira senhora do seu destino.

Um sopro de vida e mistério em forma de formiguinha aparece de repente no papel em branco sobre a minha mesa. E eu, respeitosamente, lhe dou passagem.

Rosado
Enviado por Rosado em 08/04/2021
Código do texto: T7227081
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.