Antônio Ferreira, irmão de Lampião.
Precisamente no ano de 1971, então com 28 anos de idade, deixo Petrolândia, Pernambuco, e vou para Propriá, Sergipe, por motivo de remoção ex officio, na condição de Radiotelegrafista da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco-CODEVASF. Ainda solteiro, ali vou morar numa República, bem próxima ao local de trabalho, que ficava na Praça da Catedral. Na sala contígua à estação radiotelegráfica, funcionava o setor administrativo e ali trabalhava uma sobrinha de Lampião, que só os colegas mais próximos sabiam desse parentesco.
Certo dia, sentado num daqueles bancos de cimento, na Praça da Catedral, estava seu pai, Antônio Ferreira, com quem ousei puxar um papo, conversa de sertanejo, mas não sabia tratar-se do irmão de Lampião. Somente depois, um colega que ali me viu, disse: "estava no maior papo com o pai de dona Francisca Ferreira, nossa colega". E eu, que até então não sabia, disse que não fazia diferença, pois, por uma questão de discrição, jamais ia tocar no assunto "Rei do Cangaço", uma vez que eles levavam outro estilo de vida. É tanto que sua filha estudou em Aracaju, antes de vir para Propriá, onde assumiu o emprego público.
Depois, por curiosidade, e através de pesquisas, vi que o Sr. Antônio Ferreira nasceu em 1900, dois anos depois de Virgulino Ferreira, o Lampião. Assim, se o ano era 1971, enquanto eu tinha 28 anos ele tinha 71. Discretamente, outros dias, sempre que o avistava no banco da praça, lá ia eu puxar conversa sobre o sertão. E, ao falar de Petrolândia, ele dizia: "então somos quase conterrâneos, eu sou de Serra Talhada". E, para manter a discrição, eu nem dizia conhecer sua filha, que trabalhava ali ao lado.
Sabia que, pelo estilo de vida que levavam, não revelavam seu parentesco com Lampião, salvo a pessoas mais próximas.