Diário de uma adolescente - Parte I
Havia momentos de fragilidade,
Solidão e medo.
Doença impedindo-a de caminhar,
Desfazendo sonhos.
Épocas difíceis, daquelas que um dia, mais cedo ou mais tarde passaremos, ou não.
Uma família classe média achatada por planos e reformas,
Família enorme porque composta de povo.
Pessoas doentes em casa, alguns muito mal.
E ela não podia dar-se ao luxo para frescuras, febres e dores de barriga, colinho quente da mamãe, denguinho e remedinho a tal hora na boquinha,
Jamais!
Mas ela queria isso.
Não podia, mas queria mandar o mundo todo se explodir e ficar com eles inteirinhos só para ela.
Dane-se a fome e a miséria social, Tinha fome de atenção, De toda a atenção do mundo.
Não sabia como se portar,
Era uma mocinha,impelida a abraçar suas bonecas, mimá-las dar-lhes carinho e conversas.
Bobagem! As bonecas eram simplesmente objetos de representações ideológicas,
Mas que reinaram em sua fantasia durante toda vida de até então.
Crises de humor e choro, Refeitos em poucos minutos,
Olhos secos e brilhantes.
Eles tinham contar a pagar...
Tinham que trabalhar muito para garantir um futuro mais digno para ela...
Tinham de estar atentos às mudanças sociais, econômicas e políticas do país, Interferiam nisso ao modo deles.
Havia pessoas que deles precisavam
Pessoas carentes, doentes, que não podiam aparecer.
E ela?
Ela era uma menina mimada, burguesa, egocêntrica,
E vivia um terrível conflito: sua satisfação pessoal estava Em guerra Com os valores humanitários que aprendeu a carregar no peito.
Pessoas morrendo, Sendo torturadas, Perseguidas, Assassinadas.
E ela queria um sorriso, Um carinho.
Egoísta!
Arrependia-se de tais pensamentos,
Pedia perdão para o invisível,
Escondia-se na cama,
Nem mesmo sabia, ao certo, de que,
Talvez fosse dela mesma, Ou de seus pensamentos.