A VIDA COMO ELA É
Se a humanidade já vivia isolada em decorrência do surgimento e desenvolvimento das redes sociais e, por outro lado, do medo da violência, com a Pandemia provocada pelo COVID-19, todos nos tornamos uma ameaça. Agora, obrigatoriamente, para evitar a dizimação dos humanos, melhor mesmo é mantermos o distanciamento social. Isso não significa o fim do diálogo entre as pessoas. Também não sou o exemplo de uma pessoa comunicativa, não levo muito jeito para iniciar uma conversa com uma pessoas desconhecida. Mas, às vezes, me lanço nessas aventuras. Naquele oportunidade, era para ser apenas uma conversa distraída enquanto aguardávamos nossa vez de sermos atendidos, cada um da sua vez, claro, pois não nos conhecíamos. Como ela estava ao meu lado, perguntei onde morava, o nome e qual era a especialidade que aguardava atendimento. Isso foi o suficiente para aquela Senhora de aparentemente 55 anos abrir o seu coração para mim e relatar situações que, às vezes, pensamos não existirem. Há mais de 15 anos que é paraplégica, vítima de um acidente automobilístico provocado por uma animal solto na rodovia. Mas essa é uma situação já superada, pelo menos em relação ao físico, pois, disse ela, a cadeira de rodas já se tornou parte de sua vida. A dor maior, relatou aquela Senhora simpática, foi a perda de um filho para o mundo das drogas. Foi assassinado dentro de casa, mesmo a mãe tendo querendo pagar a dívida. Pelo que entendi, ela não se perdoa por não conseguido salvar a vida do filho, por ter deixado morrer sem nada poder fazer. Já se passaram mais de 10 anos, mas seus olhos ainda lacrimejam ao falar desse dia que instalou a tristeza em sua vida. Sem muitos questionamentos, aquela Senhora se sentia muito à vontade para falar de suas aventuras. Tinha marcado aquela consulta com o Oftalmologista porque já não enxergava de um olho e o outro começava a dá sinais de fraqueza. Sobre o porquê de estar sozinha, me disse que sua única filha estava trabalhando e ainda tinha de buscar o filho na creche. Quando já iria falar sobre o fim do casamento, sobre a traição que sofrera, seu nome foi anunciado, tinha chegado o momento do seu atendimento. Rapidamente se despediu de mim, enquanto era conduzida para o consultório. Depois dessa rápida conversa, eu que iria apenas para uma consulta para trocar os óculos, entendi que sou uma pessoa muito feliz e aquela Senhora, uma pessoa muito forte e corajosa. Apesar das dificuldades, ela continua acreditando no amanhã. Então, claro amigo leitor, sempre que tiver a oportunidade, inicie a conversa com alguém. Ou você tem algo a ensinar ou tem muito a aprender. Ou melhor ainda, pode ensinar e pode aprender. É disso que precisamos.