Um sonho irreal
Era uma menina pouco graciosa, muito tímida e infeliz. No porão de sua casa, às vezes se escondia e se imaginava em lugares diferentes. De olhos fechados, sozinha em seus pensamentos, voava pra longe. Estes a transportavam para um mundo irreal, que sabia existir, mas não tinha como penetrá-lo pois se achava tão distante e ela corria, corria atrás desse mundo, desse sonho, mas logo em seguida o mundo real surgia sem cerimônia e lhe arrancava daquele torpor, daquela magia e aí seus olhos se abriam, o medo a abraçava e o desencanto aparecia. Se levantava devagar, subia as escadas, olhava ao redor e uma lágrima que teimava rolar pela sua face não a obedecia. Era tudo um sonho! Tinha que pensar nos seus afazeres, na casa grande, na comida que nem começara a fazer. E a escola? Não podia faltar, era a sua última esperança, não... tinha que andar rápido, era tarde, o tempo era curto e num piscar de olhos, de repente, tudo estava pronto. Seu irmão a chamava reclamando, ela colocava o seu prato, e ainda tremendo saía correndo para se banhar, vestia seu uniforme, se arrumava depressa e lá ia ela descendo a rua com o coração em pedaços, andava apressada com o coração agitado. O bonde chegava, ela subia, sentava-se no banco e ficava olhando a paisagem, as casas e ruas e quando este parava, ela avistava o colégio, tão grande, tão lindo, majestoso e real. Então pensava "estava ali naquele lugar, o fio condutor para a sua realização pessoal." Durante anos sua rotina se repetiu dia-a-dia, com poucas mudanças. O tempo passou e essa mesma menina, realmente, encontrou um outro mundo, porém, mantém ainda consigo o mesmo olhar dos tempos de outrora, porque não conseguiu encontrar o mundo irreal que tanto imaginara... um mundo sem medo, sem violência, sem preconceito e acima de tudo um mundo igual para todos.