Onze mil
Um corpo estendido no chão chamou a atenção dos curiosos, de repente, virou celebridade. Sua vida terrena ganhou fama, foram acionados os serviços do SAMU, 190, Coelba e Bombeiros ao local do acidente. A equipe da reportagem pagou pela informação e dirigiu-se para cobrir a matéria. Uma multidão de curiosos olhava para ver a lata do indivíduo, na tentativa de reconhecimento.
Muitos capturando na tela do seu celular diversos ângulos do infeliz. A televisão exibia a cobertura ao vivo com riqueza de detalhes e noticiava a tragédia de um ladrão de fios e nomeou o sujeito de onze mil – fio de energia de 11000 volts. A empresa de energia religava a canela que caiu com a explosão no poste. O SAMU não era mais necessária, foi substituída pela polícia técnica com seu rabecão.
A polícia militar tentava conter os ânimos da população. Em meio ao acontecimento do dia, um soluço de dor, era dona Maria, a mãe do morto. Além da perda, tinha que escutar as opiniões públicas e lidar com o parecer da comunidade. Uma notoriedade que não era bem-vinda, tampouco os rótulos pessoais.
Nessa confluência subjetiva, o fato era um divisor de águas. Para a sociedade, um criminoso de alta periculosidade, sem nome e sobrenome. Para a família, um ente querido sem sorte, carente de recursos e produto do meio. Dona Maria reuniu forças e levantou a voz: - O nome do meu filho é Arlindo Jeremias de Assunção Neto.
Esse apelido que vocês deram não representa ele. Respeitem a minha dor e o meu desespero. Era um pai de família desempregado, com oito filhos, e como não arrumava emprego fez besteiras. Eu sei que não justifica, que é crime, mas não o julguem por esse ato. Ele já pagou com a vida.