Um Pobre Cão...

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

Ele não estava nas ruas por acaso...

Provavelmente alguém o abandonou.

Procurava um canto para se esconder, amargar o seu sofrimento...

Não cortes, o ordenei que saísse depressa do meu recinto comercial - ao adentrar no mesmo.

Sem bater o enxotei severamente aos gritos; devido ao horrível odor que exalava duma bicheira, numa pata traseira.

Com certeza anteriormente passou por tantas situações similares. Iguais ou piores por parte das pessoas que cruzaram o seu caminho, nas tratativas; pauladas, pedradas, xingamentos...

De imediato, revi o meu gesto: por achar um mau trato a maneira como dei lhe as ordens imperativas da sua retirada do local.

Após maltrata-lo, do lado de fora da loja, tentei retificar o meu erro: estalei os dedos e o chamei para junto de mim.

Eu desejava fazer uma amizade com aquele moribundo cachorro.

Arredio, não esboçou nenhum sinal de receptividade, contentamento, alegria...

Os bichos têm sentimentos como gente... Ficam para baixo, tristes, ao perderem a saúde, a confiança, o desencanto com as pessoas, com a vida.

Eu precisava fazer algo por ele, além dum olhar de piedade. Dei-lhe um pão; pelo menos assim amenizaria um pouco a dor da fome.

Não o aceitou; a doença tira o apetite.

Sem a vontade para comer, somente degustou um naco do alimento.

Admiro as ONGs que cuidam desses animais: as pessoas destas instituições geralmente têm um espírito enorme, iluminado.

Duas moças passaram nas proximidades desse cão, naquele momento; com as mãos no nariz, a dizerem em coro:

“Sai pra lá cachorro!"

Não gostei de ouvir aquilo delas e lembrei-me de buscar um gole d’água a ele...

Demorei a achar uma vasilha adequada, para o líquido vital e ao retornar ao bicho não mais o vi.

Talvez nunca mais o verei. Por isso, se pudermos fazer o "bem" não devemos demorar tanto. A oportunidade passa e o bem não mais poderá ser feito.

Pobre cão...

Por certo sem direito de fala pedia um socorro para os seus males, naquele dia.

Uma vez bem tratado, sadio, bonito, cairia na graça de todos e não sairia dos braços, do querer de muitos. Não lhe faltaria carinho, amor, mas debilitado daquele jeito, todos o repudiavam, o enxotavam.

Confesso que errei no meu gesto a esse pobre cão, conforme o relato feito acima.

É comum ouvirmos os dizeres: "vida boa é de cachorro."

Se alguém viver um "dia de cão", principalmente sem dono, certamente dará mais valor ao nosso ‘melhor amigo’.

*Nemilson Vieira de Morais

Acadêmico Literário.

(20:02:17).