Bipe externo
5h15 da manhã, no melhor do sono, quando eu estava prestes a fazer da bola branca sua única companhia na enorme mesa de sinuca, três bipes externos me despertaram da vitória no bilhar. Interrompeu-se a partida, acordei e fui ver a urgência. Três mensagens de voz, no aplicativo de mensagens, me requereram a presença. "Deve ser urgente, afinal é mensagem de voz."
Não sei onde aprendi que mensagem de voz é mais urgente que as de texto. Na maioria das vezes em que recebo mensagens de voz lhes dou atenção maior que as de texto. Penso comigo: "Deve ser urgente. Talvez incêndio, acidente doméstico ou outra catástrofe semelhante atingiu algum amigo. " Se estou realizando tarefa, banal ou indispensável, suspendo e vou conferir a urgência. Já quando me vêm mensagens de texto, independentemente de eu estar ocupado ou não, deixo para lê-las depois, um depois muito depois.
Todo esse proceder, como se supõe, me entrega minha repulsa a esse meio de contato, mas, pelo menos a curto prazo, ainda não há notícia de quando voltaremos a nos comunicar por carta. De modo que eu deveria aprender a interromper esses bipes externos. Porém ainda não aprendi a desativar essas notificações, e isso me tem feito perder boa parte de meus melhores e poucos sonhos.
Outro dia estava numa pescaria onírica, de vara na mão, à beira do Mundaú, há mais ou menos meia hora esperando peixe fisgar a isca de salame, e a vara finalmente iniciou a dança, a balançar-se de um lado a outro, dando indício de peixe a bordo, e então um bipe externo levou-me o Mundaú, a vara e meu pescado em potencial. Acordei, repudiei gravemente o incômodo, mas ao fim perdoei o aborrecimento: afinal era uma mensagem de voz. Possivelmente urgente.
Não era, como a de hoje não foi. Aquela tratava-se de uma notícia que dizia respeito ao fim do mundo, que, segundo a mensagem, seria último 31 de março. Não foi, como todos os vivos sabemos. Aqui ainda estamos, infelizmente, e a cada dia mais numerosos. A de hoje, distancia-se do fim do mundo e aproxima-se do começo: traz umas mensagens cristãs alegres de Páscoa. Muito doce, para o meu gosto, porém necessárias e importantes para quem as enviou.
Gostei enormemente da parte que fala dos pecados. Bastante instrutiva, sobretudo a um tipo feito eu, que erro muito, não só porque é humano, senão porque também é agradável, como me dizem os sábios. De modo que vou me demorar mais um pouquinho até ir ao YouTube e assistir a tutorial que ensine a desativar esses bipes externos. Por enquanto, espero estar sempre atento as urgências que eles encerram e, principalmente, pecando muito e agradavelmente.