DIAS DE ISOLAMENTO.
Estou de frente a minha máquina de escrever, uma remington 22, comprada anos atrás, sempre foi o meu desejo, desde a época da escola ter uma dessas belezuras. Claro que, pelo tempo de uso, ela não se encontra em seu melhor estado de conservação, no entanto, com um pouco de cuidado e paciência ao digitar, é possível fazê-la funcional. Geralmente escrevo minhas crônicas diretamente no celular, em um aplicativo de escrita que depois vai para o computador, mas hoje, devido a atual situação em que me encontro, resolvi escrever esse primeiro rascunho de ideia na máquina.
Acontece que, pela segunda vez neste ano, estou em quarentena e de afastamento médico do meu trabalho, por doze dias, com suspeita de estar com coronavírus. Eu não imaginava que fosse passar por toda essa angústia outra vez, fazer o quê, aqui estou eu… Isolado, o que me fez lembrar de certo livro...
Me sinto como o jovem tenente, Giovanni Drogo, aprisionando suas esperanças dia após dia no forte Bastiani. Me sinto como ele, uma vez prisioneiro em meu próprio quarto, escrevo essas perecíveis linhas, do alto do meu forte, tendo como companheira a solidão, e livros e mais livros como amigos. Vivo a vã esperança, assim como Drogo, de ter um grandioso acontecimento que me tire da monotonia, a dura realidade, é que nada acontece de novo nesse deserto. ( Belíssimo livro, Deserto dos Tártaros. Escrito por Dino Buzzati Traverso ).
Às vezes o meu coração é como o de um marinheiro em alto mar, sendo açoitado pelas turbulências águas, assim como o velho e o mar, jogado de um lado para o outro, sem ter muito o que fazer. Olho para a janela atrás de mim, o dia já vai indo embora, a noite o alcança com seus longos braços. Eu permaneço aqui, já não sou mais o marinheiro, sou apenas o cronista desavisado, jogando palavras ao vento. Percebam que, nestes últimos dias, o medo escalou as muralhas de muitos corações, adentrou pela porta da frente, sem que o mesmo não percebesse, o coração só foi dar conta do perigo quando era tarde demais.
Sou o primeiro da lista.
De frente a minha máquina de escrever está a Bíblia sagrada, " Bíblia de Jerusalém", presente que ganhei da minha mãe. Do meu lado esquerdo, figura-se em um guardanapo de papel com duas frutas, uma maçã e uma mexerica, que daqui a pouco vou degustar com todo o prazer. Mas, voltando à Bíblia, olhando-a aberta diante de mim, devo sem a menor sombra de dúvidas confiar na vontade soberana de Deus sem ter medo desse vírus. Mesmo porque, o meu medo não é em perecer devido a ele, mas perecer sem ter o meu nome escrito no livro da vida do Cordeiro. Sei que em Deus tenho algo maior e melhor, é que diante dele, todo o joelho dobrará naquele grande dia, assim sendo, termino esta crônica dizendo, ou melhor, reafirmando que, em Deus está toda esperança, nele unicamente. Temos medo, sim, afinal, somos humanos, é normal sentir medo, no entanto, a certeza da vitória é maior do que o medo.
Deixo aqui registrado os meus sentimentos a todas as famílias do Brasil que não puderam sequer ter dado um funeral digno aos seus que partiram, os meus sinceros sentimentos, e que Deus conforte vossos corações.