O novo normal.
A imprensa inventou a expressão “o novo normal” no meu entender talvez uma das mais equivocadas que já ouvi na minha vida.
Para que acontecesse um novo normal, teríamos que partir do pressuposto que antes da pandemia a vida era normal tanto no Brasil como no mundo.
Não era.
A sociedade já estava doente e não sabia, achava que o desprezo pelos outros, a indiferença para com os menos favorecidos, a falta de respeito e de caridade eram atitudes normais.
Que viver entre grades com medo da violência era normal.
Que não poder sair às ruas à noite fosse normal.
Que ter mais do que o necessário era normal.
Que políticos e a elite podiam escravizar, humilhar, vilipendiar os mais humildes era normal.
Que usarem o dinheiro público para suas regalias e roubos descarados era normal.
Hoje, neste exato momento que a humanidade passa, loucos e dementes, expondo-se a riscos uns, com medos e ansiedades justificados outros, mais do que nunca é necessário que se coloque tudo o que o homem fez ou deixou de fazer desde os primórdios de sua dominação do planeta em perspectiva.
O normal seria usar a natureza com respeito e devoção – precisamos dela.
Com a evolução natural, pois não somos colonizadores de um deserto infértil, deveria – o homem - ter conquistado os espaços de forma sustentável, pensando no futuro e nas próximas gerações, herdeiras naturais de uma civilização que está se implodindo.
Mas qual! O que se viu foi a conquista desenfreada, a busca do lucro de poucos em detrimento de uma maioria faminta, excessos de todos os tipos: consumo desenfreado, vaidades inúteis, valores jogados no lixo.
A sociedade adoeceu gravemente e está adoecendo o planetinha, que sobreviverá apesar da ação nefasta a que está sendo submetido.
É preciso colocar em perspectiva o real tamanho de cada um de nós, deixar definitivamente de lado o orgulho, a vaidade, a gula excessiva, o desejo de consumir sem necessidade, os melindres...
Ah, meu Deus! Não sei mais a quem clamar neste momento de dissolução de valores, de dores ecoando pelos ares, de uma soma dolorida de pesares, e gargantas sufocadas sem conseguir dar o grito elementar, o grito preso na garganta:
- Eu quero viver!