EU, SARAMAGO & LYA LUFT

O que nós três temos em comum? O amor pelas palavras. Até ontem, só conhecia o Saramago dos textos densos e dos escritos longos. Aí, descobri um seu livro de crônicas, deliciosas, intensas... as da Lya Luft eu já conhecia, aliás, foi através delas que me encantei com essa escritora que parece falar daquilo que está dentro do meu peito e que nem sempre consigo expressar. Quando leio a Lya, parece que ela fala por mim.

Já faz algum tempo que comecei a escrever crônicas. Começava aquela ideia, que se transformava numa pulsação mais rápida, o pensamento ia e vinha, as palavras virando texto na minha cabeça, até que eu sentava e cada uma delas ia saindo através das pontas dos meus dedos. É assim que acontece até hoje. Elas estão espalhadas. Algumas, já impressas, guardadas em alguma pasta em alguma gaveta. Outras, apenas registradas no meu computador... acho que algumas já se foram nos computadores vendidos e substituídos.

Gostei de saber que o Saramago também escreve crônicas e que a Lya também escreve livros. Já escrevi vários, como tradutora. Sim, sempre que relia uma tradução feita por mim, tinha a impressão clara de que eu havia reescrito aquele texto. Claro que as ideias todas do autor eram mantidas, mas colocar aquelas ideias em um novo idioma, exigia de mim uma redação nova. Tenho um desejo quase secreto, que as poucos vai se revelando a mim mesma, o de escrever um livro, do começo ao fim, da primeira à última ideia. Penso que as crônicas que venho escrevendo ao longo do tempo, sejam um ensaio para tal empreitada.

Mas posso continuar a escrever minhas crônicas. Quem sabe elas, ou parte delas, façam parte daquele livro que irei escrever. Tenho vontade de colocar no papel um romance especial, uma história que fuja do convencional, mas que inevitavelmente vai ter tantos aspectos corriqueiros da vida humana, que tocará muitos corações. É isso, gosto da ideia de tocar os corações através do que escrevo. Me apaixono pelos escritores que tocam o meu coração, como o Saramago e a Lya. A humanidade que eles revelam nas palavras e nos tons que usam, nos aproximam.

Um brinde a nós e a todos os que fazem das palavras um instrumento que produz a música da vida, em todos os seus timbres e diferentes tons.

Kedma Campos

fevereiro 2010