Megaferiado
Quinto dia do megaferiado.
Ontem estava assistindo a um filme com Ethan Hawke quando levei um gancho de direita e percebi que perderia a luta contra o sono no quinto assalto. Desliguei a TV e fui dormir.
Acordei algumas vezes para ir ao banheiro. Minha bexiga está irritada e sei o que isso significa: em breve irei expelir outro cálculo renal.
Acordei e abri os olhos, mas não quis me levantar. Fiquei deitado e vi que horas eram, enquanto ela caminhava do outro lado do mundo, como eles disseram.
Saí da cama, peguei o celular e fui ver as mensagens. Quem, em seu juízo perfeito, levanta antes das seis para correr? Isso me fez lembrar de quando acordava antes de cinco para pegar o fretado e ir trabalhar e me perguntava o que estava fazendo da minha vida. Já não pego mais o fretado e posso fazer essa indagação depois das oito.
Vi fotos de dias lindos de sol em locais diversos. Há meses os dias de sol me aborrecem. Não pelo calor, mas por sua beleza. Um céu azul tão lindo não combina com o fim do mundo. Não dá para imaginar os Vingadores enfrentando Thanos numa batalha de vida ou morte num dia como esse. Deus parece ser um cara sacana (calma mãe, calma tias, não estou desrespeitando o Criador) permitindo dias de céu azul durante o apocalipse.
Talvez não. Pode ser que essa seja uma das muitas formas de Deus nos oferecer esperança. Talvez esteja nos dizendo que sempre há uma porta e um apito no meio de um oceano gelado esperando quem luta.
Chega, que já está ficando muito dramático. Vou limpar o fogão e fazer as malas. Hoje vou para São Paulo ver meus pais, comer a comidinha da mamãe e tomar uma cerveja gelada com meu irmão, enquanto conversamos sobre tudo.
(Escrevi isso de manhã. Já estou em São Paulo, já comi, conversei, não bebi cerveja ainda, só um café, e não limpei o fogão antes de sair.)
Um último pensamento: em algum lugar alguém está colocando casinhas de pássaros no quintal, para que os bichinhos possam fazer seus ninhos em segurança. A vida é boa, afinal.