Verdades e mentiras

Sempre preferi a verdade. Contraditoriamente, acho até que não é questão de preferência, nem tampouco exatamente de decência, mas de consistência. Melhor ainda. De consciência.

De saber-se real.

As verdades incomodam. Atrapalham as sobrevivências do verdadeiro, principalmente em curto prazo. Até que se conheçam as essências das pessoas e, para isso, presumi-se que haja interesse nesse tipo, assim, tão verdadeira. A tentação de se ceder à mentira surge dentro das vaidades. Para se valorizar o perfil. Geralmente no ambiente de trabalho com os atributos generosos dos currículos pela “causa nobre” de se conseguir emprego. Depois, nas performances cheias de pirotecnia com fins de sucesso e promoções. Tem sido nesse seu principal habitat que a mentira ganha ares de “profissionalismo” e passa a gerar uma personagem de onde fica quase impossível extrair-se o ator. E os verdadeiros, aqueles que não contemporizam, com circunstâncias ou relatividades hierárquicas, vão sendo preteridos, deixados ao ostracismo por sua “postura incômoda” normalmente confundida com insolência. Recentemente, tenho visto um senhor dando conselhos de comportamento no programa Fantástico. Não é que ele esteja errado, até porque os assuntos são diversos e requerem real atenção, mas o comportamento indicado por ele estimula certo tipo de predador.

Conciliar sinceridade com elegância, liderança, humildade e competência é um desafio. É o caminho longo logo trocado pelo recurso usual.

Para ganhar da verdade, a mentira usa muito e muitos recursos e escaramuças. Uma delas é alcunhar de ingênua, boba mesmo, a pessoa que não cede aos disfarces da mentira. Não é que não haja as situações que as impõem. Há sim, mas há que se pesar o quanto se será obrigado a usar esse recurso.

Quem de nós, já teve ou tem alguém próximo em que, numa conversa, vê-lo (a) resvalar? Aumentando detalhes de uma estória ou mesmo completando-a com ênfases falsas? Há os que inventam estórias falsas em torno de uma verdadeira de modo a dar credibilidade à fantasia. Esses são os mais “perigosos”. Dá vontade de sair de perto. Nesses casos “contamos uma mentira” dizendo que precisamos nos ausentar por algum motivo. Não valeria a pena enfrentá-los. A maioria acredita nas próprias invenções. São sinceros nisso!