Sexta-feira da Paixão
Antes do término da ceia, o apóstolo da Faria Lima retirou-se.
- Vá e faça o que tem que ser feito – disse-lhe Jesus.
Em troca de trinta bitcoins, Judas Iscariotes havia combinado de entregar seu mestre.
Um pouco antes de sair, Jesus havia dito que sabia que um deles o trairia. Isso deixou os discípulos agitados. Pedro, o temperamental, disse que jamais o abandonaria.
- Na hora que o bicho pegar, você será o primeiro a fugir, Pedro.
Enquanto aguardavam no jardim, chegou a hora: os fascistas se aproximavam.
- Se entrarem aqui, vou meter bala nesses caras!
- Pedro, não faça isso. Quem com bala fere, com bala será ferido.
Quando entraram no jardim, Judas apontou o mestre com o dedo.
- É aquele!
Levado pelos milicianos, Jesus foi preso.
Diante de Pilatos, o pastor Caifás apresentou as acusações. Afirmou que Jesus não respeitava a palavra de Deus, que acreditava na ciência e na razão, que andava por aí orientando as pessoas a usar máscaras e manter o distanciamento social.
- Ele anda defendendo o lockdown, vê se pode!
Sabendo que o povo apoiava Caifás, principalmente os comerciantes, Pilatos ficou sem saber o que fazer.
Consultou seus assessores, que orientaram a jogar o abacaxi no colo de outro.
Herodes estava numa festa clandestina numa sauna, quando atendeu a ligação.
- Quem? Jesus? Aquele influencer cabeludo, que fica dando moral para puta pobre? Não quero saber. Fala para aquele vagabundo do Pilatos se virar!
Irritado com a recusa de Herodes em resolver a pendenga, Pilatos chamou seus milicianos e mandou descer o cacete em Jesus.
Teve então uma ideia. Como era tradição que o povo escolhesse um criminoso nesta época do ano para ganhar o indulto, mandou chamar Barrabás, acusado de transportar drogas e armas num helicóptero, além de bater na mulher.
Formado o paredão, foram postos lado a lado para que o povo fizesse sua escolha. Este não teve dúvidas e gritou:
- Soltem o Barrabás!
- Como é que é?
- Soltem o Barrabás!
- Vocês têm certeza?
- Soltem o Barrabás!
- Tudo bem, entendi. O que faço com Jesus?
- Vamos linchá-lo!
- Ahh, vocês que se ferrem! Eu lavo minhas mãos!
Depois deste gesto simbólico de não estou nem aí, Pilatos entregou Jesus à população enfurecida. Jesus foi arrastado pelo Calvário e dependurado num poste de madeira.
Enquanto agonizava, olhou para a multidão em volta, aglomerada, sem máscaras, falando alto. Olhou para o céu e disse:
- Pai, que tal um raio para acabar com essa patifaria?
João estava mais próximo e jurou de pés juntos que não foi isso que ele falou. Foi a partir daí que ele, Mateus, Lucas e Marcos combinaram de tuitar uma frase que se tornaria famosa, com os seguintes dizeres:
“Pai, perdoai-os. Eles não sabem o que fazem.”