PREFERENCIAS
Sempre ouvi muito musica classica.
Sabia aquela Colecao dos Grandes Mestres da Reader's Digest praticamente de cor.
Cheguei a gostar muito do Peer Gynt do Grieg. Ouvia Finlandia do Sibelius repetidamente. Embora Chopin, Litz e Tchaikovisky fossem mais facilmente assimilaveis eu preferia ouvir mais Debussy e Schubert.
Soube que Bach havia praticamente feito de tudo. Bach era para a musica uma especie de Mendel da botanica, para mim. Fui muito atraido pela botanica mas, na verdade, minha pratica com a biologia acabou sendo mais envolvida com o reino animal do que o vegetal. Talvez por causa da minha proximidade com o museu dos escoteiros da Aymore'...
A minha escolha por Beethoven sempre foi categorica e racional, nunca abri mao disto. Ja' a minha intimidade com Wagner estava ligada a uma identificacao do que era a tradicao oral e o folklore mineiro/brasileiro/latino&etc...Era uma especie de busca da fonte original, das raizes da cultura brasileira...algo meio mitologico ou mistico...acho que ate' o Mario de Andrade esteve nessa com o Macunaima. Wagner era o Nietzsche mineiro em mim.Ouvia no Wagner algo do Homero assim como via na fisionomia do Schubert a do Decio Bracher, na epoca da Galeria de Arte Celina.
Uma vez, quando o Carpeaux esteve em Juiz de Fora, realizando um dos Encontros promovidos pela Civilizacao Brasileira, levei o meu gravador Grundig TK46 para registrar o evento. Durante a instalacao o Carpeaux me perguntou para que mais eu usava o gravador. Disse que para compor minhas musiquinhas e aumentar minha colecao de musicas classicas e, que recentemente havia incluido Stravinsky. Ele me disse de forma resoluta: " voce precisa incluir nas suas preferencias Brahms ! "
De fato, bem mais tarde descobri porque ouvia Mozart tao pouco. E' que me faltava aprender a ouvir Brahms.
Ha' duas maneiras de se ouvir Mozart: 1. automaticamente, atraves/pelo ritmo que a civilizacao ocidental tem cursado seu dia-a-dia modernamente, onde Mozart funciona como um paleativo, uma especie de compensacao do aparente caos. 2. aprofundadamente, atraves/pelo Brahms, onde a razao tem beleza com os segredos do coracao.
Eugenio Malta