Soltando pipa na quebrada
O dia estava ensolarado, mas de repente, como sempre acontece em Sampa, colou uma pá de nuvem cinza escuro, uma por cima da outra no céu, foi aí que começou a ventar muito forte, era então o momento propício...eu estava na rua e logo coloquei um pipa no alto, descarreguei todo o tubão de linha 10 branca, enquanto escutava a musica berrando na minha orelha, vinda do carro do gás. Olhei para a esquina, e vi o velho andrajoso do algodão doce vindo em minha direção, era sempre a mesma hora da tarde que ele passava gritando e acenando para os vizinhos; ao meu lado, uma senhora arqueada, lavava a calçada com a água da mangueira, enquanto corriam prá lá e prá cá uma miríade de pessoas que seguiam ininterruptamente, subindo e descendo a rua estreita, enlameada, o cachorro latindo com os caninos à mostra no portão, um pixo novo do GAP no muro do posto de saúde na outra esquina...me distraí com toda aquela cena de caos na minha quebrada, de repente, senti a linha se afrouxar em minha mão, imediatamente percebi que havia tomado um relo... eu ri e depois fiquei triste, nunca mais vou ver aquele pipa, afinal, era assim as coisas na quebrada, sem tempo prá desagrado. Logo, cairia uma puta chuva e a seguir, sopraria um vento forte e gelado, as condições ideais para por no alto um novo pipa, com uma enorme rabiola...